A conexão entre a Prevent Senior e o guru da cloroquina, Didier Raoult

Atualizado em 13 de outubro de 2021 às 10:11
Em abril de 2020, o presidente francês Emmanuel Macron visitou Didier Raoult no IHU de Marselha “ao abrigo das câmeras oficiais”. Foto: reprodução/France 24

Existem muitas semelhanças entre o modus operandi do microbiologista francês Didier Raoult, guru da cloroquina citado pelo senador Heinze em toda CPI, e a Prevent Senior. E, em ambos os casos, os governos tentaram encobrir procedimentos criminosos.

De acordo com fonte ouvida pelo DCM na França, a coincidência de métodos sugere uma ação mundial orquestrada.

Em setembro de 2021, o Institut Hospitalo-Universitaire (IHU), dirigido por Raoult, continuava usando o kit covid, inclusive em crianças e mulheres grávidas.

Apesar dos alertas dos comitês de ética e do Conselho Científico sobre os ensaios clínicos não autorizados, o presidente Emmanuel Macron elogiou Raoult.

Durante uma entrevista, por exemplo, disse “ter a certeza de que o tratamento é feito de acordo com a legislação sobre investigação em humanos”. Segundo Macron, Raoult era “um grande cientista”. Há semanas, declarou o seguinte: “Devemos fazer justiça a Didier Raoult”.

Em março de 2020, o Ministério da Saúde francês aprovou um decreto para restringir o uso do “kit covid”. Raoult ligou para Macron. Depois disso, o ministro avisou Raoult que o governo não pressionaria o IHU, mesmo que não houvesse consonância com o decreto. A história está no livro “Raoult, Une folie française”, das jornalistas Ariane Chemin e Marie-France Etchegoin.

O estudo da Prevent Senior que ocultou mortes foi promovido por Raoult em suas redes sociais. Ele teve contato com médicos da operadora de saúde. Isso foi feito depois que a comunidade  científica identificasse erro metodológico.

O coordenador do levantamento, o cardiologista Rodrigo Esper, diretor da Prevent Senior, citou Raoult num áudio enviado a pesquisadores para orientá-los quanto à revisão dos dados dos pacientes. Ou seja, quatro dias depois da publicação do artigo científico com os resultados, eles ainda não haviam sido revisados.

“Esses dados vão mudar a trajetória da medicina nos próximos meses aí no mundo, tá bom? O Didier Raoult, eu entrei em contato com ele ontem, ele citou o nosso trabalho no Twitter, eu respondi ele, e então a gente precisa ser perfeito, o dado, tá?”, diz ele. Raoult também incluiu o estudo suas meta-análises a fim de divulgar “a eficácia de derivativos da cloroquina”. 

Outra semelhança: o estudo da Prevent Senior começou antes da aprovação do protocolo. Raoulf fez a mesma coisa, o que é proibido pela legislação dos dois países. 

O jornal francês L’Express identificou várias pesquisas ilegais não autorizadas em crianças, estudantes de medicina e sem-teto antes e durante a pandemia. O caso foi destacado pela pesquisadora Elisabeth Bik em agosto.

Autoridades de comitês de ética do país pediram investigações, como fez o Conep com a Prevent Senior, mas a reação do governo foi tímida. 

Raoult promove uma cruzada contra a comunidade médica contrária ao seu tratamento ineficaz. Recentemente, compartilhou um editorial do site de extrema direita France Soir, que insinuava um pedido de guilhotina para uma série de grupos da sociedade.

O editorial, publicado no fim de agosto, atacava tanto os confinamentos quanto o passe sanitário (vacinação e teste negativo em locais fechados) e sugeria que a vacina contra a Covid-19 pode gerar mais mutações e induzir mais mortes do que a ausência de vacinação.

Veja a Prevent Senior
Prevent Senior. Foto: Reprodução