Ideli Salvatti é ameaçada por bolsonaristas por dizer uma verdade: SC tem células neonazistas

Ex-ministra de Dilma falou ao DCMTV

Atualizado em 10 de abril de 2024 às 19:41
Ideli Salvatti. Foto: Reprodução/DCMTV/YouTube
Ideli Salvatti. Foto: Reprodução/DCMTV/YouTube

Perseguida por denunciar a extrema direita em Santa Catarina, Ideli Salvatti é professora de física aposentada e foi deputada estadual, senadora e ministra do governo Dilma Rousseff em três pastas: Pesca e Aquicultura, Relações Institucionais e Direitos Humanos. Hoje fora da política institucional, ela lidera o movimento Humaniza SC.

Durante uma missa ministrada pelo padre Júlio Lancellotti em 24 de março, a ex-ministra afirmou que Santa Catarina tem o “maior número de celulas neonazistas do Brasil”. São dados do Ministério Público.

Virou alvo de ataques da deputada federal Caroline De Toni (PL) e de outros parlamentares de extrema direita. O vereador Cleiton Profeta (PL) protocolou o projeto de decreto legislativo 6/2024, que revoga o título de cidadã honorária de Joinville de Ideli Salvatti, concedido em 2013. O projeto foi protocolado em 26 de março deste ano. A fala foi tirada de contexto, como ela e explicou no DCMTV.

Essas investidas não são acidentais. Nos bastidores, o nome da ex-ministra de Dilma é forte para pré-candidatura à prefeitura de Florianópolis, com endosso de Lula.

Denunciando bolsonaristas, fascistas e extremistas de direita, Ideli também foi alvo de perseguições por sua atuação na Humaniza SC. Essa articulação política conseguiu premiar figuras como padre Júlio Lancellotti, Felipe Neto e Chico Buarque.

Ideli Salvatti acredita que seu trabalho pode ajudar a resgatar as raízes e a história dos progressistas no estado. Confira os principais pontos da entrevista dada ao DCM Ao Meio-Dia.

Celulas neonazistas

Eu disse que o estado que tem o maior número de células neonazistas em funcionamento. A nossa vida não é fácil. As informações não foram inventadas. Nós temos uma situação que é grave.

São dados de pesquisadores fornecidos ao Ministério Público Federal. A deputada federal Caroline De Toni publicou um vídeo em diz que eu desrespeitei os catarinenses. As pessoas que aqui vivem são acolhedoras. É um povo ordeiro. É um povo que acolheu os imigrantes que aqui fizeram suas vidas e tornaram esse estado a pujança e a beleza que é.

Não ataquei o povo daqui. Falei exatamente o que acontece aqui, demonstrando a minha preocupação com o estado.

A raiva da extrema direita

Sempre comparo assim: Você está dentro da casa, numa sala com outras pessoas. De repente, passa um rato correndo. Aí você grita: “Olha o rato! Olha, lá tem um rato!”

Eles atacam quem alertou que tem um rato. Essas pessoas são o quê? Amigos do rato? Amigo de ratos? É um pouco essa a situação que a gente tá vivendo. A gente alertou para um problema e colocou o dedo na ferida de que nós temos este problema grave aqui em Santa Catarina.

Tem determinados vídeos que eles gravaram e eu fico olhando a forma, a maneira, a expressão. É uma coisa raivosa. Eles parecem rottweilers falando. Tem determinados vídeos que passam a ser prova do extremismo que eu apontei.

São provas inequívocas do que eu falei. Existe um incentivo ao ódio e à violência.

Eu sou uma pessoa confiante. A gente fez as rememorações dos 60 anos do golpe, da ditadura militar. Nós temos que comemorar que, pela primeira vez, como nunca antes neste país, já dizia o senhor Luiz Inácio [Lula da Silva], tivemos a prisão de militares.

Temos generais acusados de terem cometido os atos golpistas. Isso é inédito. Nós temos que elogiar isso. Nós temos que nos fortalecer para que isso continue.

Que eles sejam todos presos, condenados e punidos. E isso acontece pela primeira vez, né? Militares punidos por atos golpistas. Então, isso é muito emblemático. Temos que apostar essas iniciativas e comemorá-las.

Comemorar e fortalecer. E eu fico emocionada com o pedido de perdão para o povo Krenak pelos crimes cometidos durante a ditadura contra os povos indígenas.

Se você botar na ponta do lápis, o maior número de pessoas mortas na ditadura foram indígenas e isso nunca tinha sido reconhecido.

E tem a deliberação do Supremo sobre o artigo 142. Está claro que as forças armadas não são o poder moderador. Nada disso. Elas estão subordinadas ao poder civil.

Que eles fiquem nos quartéis. Protejam o país e não entrem nas questões da política. 

Dá para recuperar Santa Catarina?

O bolsonarismo cresceu em Santa Catarina. O Bolsonaro teve, na eleição de 2018, o maior percentual de votos no primeiro turno em Santa Catarina. Mas em 2002, na primeira eleição vitoriosa do Lula para presente, o estado que deu o maior percentual de votos no primeiro turno foi Santa Catarina. É muito interessante isso.

Naquela época, dos 40 deputados estaduais, nós elegemos 10. Dos 16 deputados federais, nós elegemos cinco. E das duas vagas ao Senado, nós elegemos uma que fui eu.

E nós só não fomos para o segundo turno no governo do estado por 1%. Em 2002, a gente fez barba, cabelo, bigode e até sobrancelha, entende?

Em Santa Catarina temos muito consolidados dois polos. Uma parte considerável da população tem hora que vai com um polo e tem hora que vai para outro.

Acredito piamente que neste estado temos exemplos muito fortes de luta, de resistência e de enfrentamento. A primeira guerra contra uma intervenção internacional foi a Guerra do Contestado aqui em Santa Catarina. Foi contra o poder inglês.

A rebelião do Contestado foi porque as terras dos nossos agricultores foram usurpadas por uma intervenção, por um interesse econômico e financeiro de outro país, da Inglaterra.

A gente tem história de resistência. Acredito que a gente vai humanizar Santa Catarina novamente. Infelizmente, tem uma parte da população e de grupos políticos que advogam pelo ódio, violência, preconceito. Eles, de alguma forma, adotam a ideologia fascista.

Mas a grande maioria do povo catarinense é ótimo, lindo e maravilhoso. É um povo muito trabalhador.

Quando tivemos desastres em Santa Catarina, nossa mobilização da população é uma demonstração clara de que existe empatia com o sofrimento do outro.

Santa Catarina é o único estado com o nome de mulher — uma santa que foi perseguida.

“Eles se incomodaram com o Humaniza Santa Catarina”

O nosso manifesto teve muito peso e muita repercussão. Foi transmitido ao vivo por vários canais. Na sequência nós tivemos a entrega do prêmio Humaniza aqui em Santa Catarina. Todos os homenageados estiveram presentes, até de forma virtual, como foi a entrega ao padre Júlio Lancellotti, ao Chico Pinheiro.

Tivemos virtualmente um vídeo do Chico Buarque agradecendo ao prêmio. Tivemos vídeo do Felipe Neto. Felipe disse no vídeo que precisa ter um Humaniza Rio de Janeiro também.

Fomos muito bem acolhidos pelo Supremo Tribunal Federal, que foi a instituição que ganhou o prêmio. Reconhecemos o trabalho do ministro Barroso. A família dele e ele foram ameaçados foram cercados por bolsonaristas. Ele vivenciou o problema aqui na própria pele.

Reconhecemos o trabalho da vereadora Maria Tereza Capra, a Sabrina Pereira, o MST. Todos os homenageados pelo Humaniza Santa Catarina estiveram no evento. Foi um prêmio com uma grande repercussão, demonstrando que o trabalho que a gente faz é muito importante na realidade.

Existe população em situação de rua no mesmo estado que tem as células nazistas. Assim é Santa Catarina. Não é por um acaso que ocorrem ataques desse tipo.

Isso se encaixa com a situação do padre Júlio Lancellotti em São Paulo. Esses reacionários ficam todos incomodados. Porque ele pratica cristianismo com a população em situação de rua.

Veja a live completa.

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