Incluído no inquérito das fake news, PCO ataca urnas eletrônicas, como Bolsonaro

Atualizado em 3 de junho de 2022 às 12:57
Militantes do PCO
Militantes do PCO em manifestação

O Partido da Causa Operária (PCO) foi incluído no inquérito das fake news, por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, após ter se tornado uma linha auxiliar do presidente Jair Bolsonaro (PL). Nas redes sociais, a legenda há algum tempo vem atacando a Corte e questionando as urnas eletrônicas, alegando que o aparelho é malvisto em “quase todo o mundo”.

Em sua decisão, o ministro afirmou: “Efetivamente, o que se verifica é a existência de fortes indícios de que a infraestrutura partidária do PCO, partido político que recebe dinheiro público, tem sido indevida e reiteradamente utilizada com o objetivo de viabilizar e impulsionar a propagação das declarações criminosas, por meio dos perfis oficiais do próprio partido, divulgados em seu site na internet”.

Desta vez, Moraes foi chamado de “skinhead de toga” e acusado de “preparar um golpe” no processo eleitoral. Pior: o PCO defendeu a “dissolução do STF”. Mas a guinada bolsonarista da sigla dirigida por Rui Costa Pimenta vem de muito antes.

Uma publicação de agosto de 2021, na conta oficial do partido no Twitter, dizia o seguinte: “Voto pelo celular pode; mas questionar a inviolabilidade das urnas, não! Pelo menos é isso o que diz o TSE. E quando as urna (sic) eletrônicas são mal vistas em quase todo o mundo?”

Partido se orgulha de ser “o único que defende o voto impresso”

Em dezembro daquele ano, o PCO se vangloriou de ser “o único que defende o voto impresso”, lamentando que Bolsonaro havia parado de fazer discursos a favor da medida.

Um artigo publicado no DCO (Diário da Causa Operária), jornal vinculado ao partido, diz que “o problema do voto impresso e da população ter acesso a um comprovante real de confirmação de seu voto é uma questão chave na luta contra o total controle da burguesia sobre o sistema eleitoral brasileiro”.

“É comprovado, e admitido mesmo em países imperialistas como a Alemanha, que as urnas eletrônicas e por consequência, o voto não auditável, ferem os princípios básicos dos direitos democráticos da população”, acrescenta o texto.

O presidente da legenda, Rui Costa Pimenta, concedeu uma entrevista ao site de direita Gazeta do Povo em janeiro de 2021, pouco depois do ataque ao Capitólio dos EUA por apoiadores de Donald Trump, derrotado por Joe Biden nas eleições presidenciais.

Ele comentou um artigo no jornal da Causa Operária que enfatizava que as eleições presidenciais dos EUA em 2020 foram “as mais fraudulentas da história” e aproveitou para se posicionar a favor do voto impresso.

“Por que o STF não determina que, embora tenha a urna eletrônica, haja também o voto impresso? Tudo pode ser fraudado, mas o voto impresso é muito mais fácil de ser auditado”, declarou.

PCO defendeu Roberto Jefferson

A sigla também se manifestou em defesa do ex-deputado bolsonarista Roberto Jefferson e aproveitou para atacar Moraes, na época em que o ministro mandou prendê-lo. “No regime golpista manifestar-se é permitido — desde que os sicofantas de toga permitam”, dizia o tuíte.

Perdido no discurso a favor da liberdade de expressão, o PCO é uma legenda que se diz comunista, mas defende bolsonaristas e o direito de se realizar discursos nazistas. O youtuber Monark, por exemplo, que se manifestou favorável à existência de um partido nazista no Brasil, recebeu o apoio do partido.

Enquete questionando as urnas eletrônicas

Em maio deste ano, o partido realizou uma enquete pelo Twitter questionando seus seguidores sobre a confiança nas urnas eletrônicas.

“Você confia nas urnas eletrônicas brasileiras ou acredita que elas possam ser fraudadas?”, perguntava a publicação.

A grande maioria dos usuários (mais de 70%) disse não confiar no sistema eleitoral, enquanto 29,9% disseram acreditar na autenticidade das urnas.

Empresa familiar disfarçada de partido

Em janeiro, o DCM mostrou que o PCO direciona, há pelo menos cinco anos, os recursos públicos que recebe via Fundo Eleitoral para empresas e pessoas ligadas ao presidente da sigla, Rui Costa Pimenta, a seus familiares ou filiados e candidatos do partido.

É o que mostram documentos de caráter público relacionados a contas eleitorais, e dados fiscais, patrimoniais e financeiros do partido analisados pelo DCM.

Dos R$ 2,2 milhões que o PCO recebeu de verbas públicas em 2018 e 2020, R$ 1,65 milhão foi parar em duas empresas de pessoas ligadas à família Pimenta.

A primeira é um escritório em Brasília de um advogado que é sócio de uma filha de Rui Costa Pimenta em outra empresa, funcionário da fundação partidária do PCO e ex-candidato a deputado federal da legenda por duas eleições.

A segunda é uma gráfica em São Paulo que é considerada inapta pela Receita Federal desde 2021, por não apresentar ao Poder Público os registros de suas atividades econômicas por, pelo menos, dois anos consecutivos. Uma de suas duas donas é jornalista filiada ao PCO e ex-candidata a deputada do partido em 2006.