O que faziam dois jornalistas no famoso jantar de Temer. Por Alceu Castilho

Atualizado em 14 de setembro de 2021 às 18:06
Temer ri de Bolsonaro junto da elite
Temer ri de Bolsonaro junto da elite. Foto: Reprodução

O jornalista Alceu Castilho, do site De Olho nos Ruralistas, fez um texto no Facebook sobre o jantar de Temer que foi vazado. Ele menciona o jornalista Antonio Carlos Pereira, editor da área de editoriais do Estado de S.Paulo. Ele saiu do jornal centenário em setembro de 2021 segundo o UOL.

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Jornalistas com Temer

O vídeo com Michel Temer e parceiros de jantar, divulgado pelo UOL (que se importou mais com as risadas de Temer, alguém imitava Bolsonaro e ele ria), ilustra o papel da mídia nos golpismos e na perpetuação de uma plutocracia violenta e cínica no Brasil.

São muitos os comensais diretamente relacionados à imprensa. Um deles, patrão, Johnny Saad, da Band, o amigo do FHC. Um dos jornalistas é o global Roberto D’Ávila, com seu sorriso perpétuo, bajulador ostensivo de quem tenha algum miligrama de poder.

Poderia também falar do braço humorístico dessa conexão dos poderosos com a comunicação, pois o rapaz que estava a imitar Bolsonaro faz parte do Pânico (o que nos conecta de novo à família Saad). Do humor como braço disfarçado dessa burguesia cafona.

Mas quem mais me chamou a atenção foi a figura robusta de Antonio Carlos Pereira. Esse eu conheci bem de perto, pois era da equipe de editorialistas do Estadão — onde ficou por quase sessenta anos. Não é exagero, foram 58 anos mesmo.

É o que se chama de intelectual orgânico. À direita. Nesse período, que inclui o golpe de 64 e o AI-5, a redemocratização, as eras FHC e Lula, o golpe de 2016, a tolerância a Bolsonaro, ele lá esteve. E agora aparece ao ladinho de Michel Temer, como velhos amigos.

E é isso, né? Antonio Carlos escreveu boa parte dos editoriais do Estadão que referendaram a derrubada de Dilma Rousseff e a ascensão da cleptocracia paulista ao poder. Justo que esteja lá, a gargalhar com os empresários. E a manter um fascista no Alvorada.

Ainda nos recusamos a entender o poder da mídia na orquestração politica no Brasil. Essa orquestra movida a gargalhadas e jantares e taças de vinho é a mesma que rouba terras, assassina indígenas e camponeses, mata pobres nas periferias e dizima nossos biomas.

Por trás de cada Kassab há algum D’Ávila, com esse apóstrofo pendurado, a referendar os conchavos; por trás de cada Naji Nahas há uma profusão de editorialistas, a serviço dos patrões — que são também proprietários de terras, empresários, banqueiros etc.

Que é o capital quem segura Bolsonaro no Palácio do Planalto não podemos ter dúvidas. Que o capital neste país periférico se desenha a partir de um patamar antológico de cafonice, também não podemos ter dúvidas. (O genocídio é também estético.)

Uma cafonice for export, para ser saboreada no exterior (já com os redesenhos menos rústicos da aristocracia mundial) a partir do Porto de Santos, o porto tão esquecido pela imprensa, com sua rede de ilegalidades e de crimes e de gestores gordos.