Juíza de Curitiba que chamou servidora de ‘minha escrava branca’ é afastada

Atualizado em 13 de setembro de 2019 às 21:53
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PUBLICADO NO PRAGMATISMO POLÍTICO

Acusada de desrespeitar, humilhar, xingar e ameaçar servidores, a juíza Gisele Lara Ribeiro foi afastada de suas funções após o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) abrir processo administrativo disciplinar contra a magistrada.

Gisele Ribeiro é acusada também de prevaricação — a atitude do funcionário público de retardar ou deixar de praticar ato de ofício para satisfazer interesse ou sentimento pessoal, segundo o Código Penal.

A juíza, que atuava na Vara de Registros Públicos e Corregedoria do Foro Extrajudicial de Curitiba, foi flagrada em gravações ameaçando e também proferindo uma série de xingamentos. “Eu vou chutar essa guria”; “A filha da p… que não sabe enxergar merda nenhuma”.

Segundo a Corregedoria no Paraná, “observam-se relatos de que a magistrada insinuava a incompetência de alguns dos servidores para outros ali lotados”.

“Nos casos em que era procurada para o saneamento de dúvidas sobre o cumprimento dos atos jurisdicionais, proferia ofensas, aos gritos, utilizando-se de expressões como ‘tinha que desenhar tudo’; ‘parece que você tem paralisia cerebral’; ou ‘esse servidor é um burro’”, acrescenta a Corregedoria.

Outras testemunhas revelaram que a juíza Gisele Ribeiro chegou a se referir a uma servidora, diante de outros funcionários, como sua “escrava branca”.

“Não obstante a magistrada assevere que ‘pretendia ressaltar o valoroso labor da servidora’, o emprego de expressão que remete à escravatura, fato valorado como altamente negativo, indica conduta que também implica transgressão dos deveres”, registra o relatório da Corregedoria.

As cenas de destempero, gritos e humilhações não eram fatos isolados e ocorriam rotineiramente. “Eles são um bando de filhos da p…. Você não tá entendendo? Confiou, fodeu! Daria pra confiar se eu fosse bem vagabunda, ‘trepadeira’. Como eu não sou assim, nós ‘se f…’”, grita a magistrada em outro trecho gravado.

Em outro momento, ao receber a informação de que um advogado a procurava, Gisele Ribeiro esbraveja: “O que essa gentinha quer? São um bando de porcos”. Ela prossegue: “manda entrar essa gentalha”.

Gisele também tripudiava da aparência física dos advogados e passou a prejudicar as causas dos profissionais que a procuravam para conversar. Após atender aos advogados, a magistrada ordenava que o processo ficasse “no fim da fila”.

“Conforme se extrai de arquivo de áudio, em determinada ocasião a magistrada passou até mesmo a ridicularizar a aparência física do advogado e a afirmar que teria vontade de desferir contra ele uma facada”, diz outro trecho do relatório da Corregedoria.

O advogado Francisco Zardo, que defende a juíza, alegou que as gravações são provas ilícitas, feitas por terceiros não envolvidos na conversa e sem autorização judicial. Ele diz ainda que não houve a possibilidade de arrolar testemunhas de defesa na fase de apuração prévia dos fatos.

A defesa da juíza justificou ainda que ela vive sob pressão, em uma vara responsável pela corregedoria de cartórios e que, com o seu trabalho, fez muitos desafetos.

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