Keiko Fujimori repete táticas da extrema direita e usa até fake news com Messi nas eleições do Peru

Atualizado em 23 de maio de 2021 às 17:47
Keiko Fujimori. Foto: Reprodução Youtube

Publicado na Rede Brasil Atual (RBA) 

A campanha da candidata Keiko Fujimori, do Força Popular, que enfrenta Pedro Castillo, do Peru Livre, no segundo turno das eleições presidenciais peruanas, marcadas para 6 de junho – tem utilizado métodos similares aos de outros candidatos do espectro da extrema-direita na disputa pela presidência do país. O último lance de seus apoiadores foi questionar a lisura do sistema eleitoral.

LEIA – Esquerdista peruano tem vantagem numérica em empate técnico contra Keiko Fujimori

Nos últimos dias, diversas postagens publicadas em redes sociais buscam caracterizar um cenário de suposta fraude eleitoral, semelhante ao que fez em 2020 o então presidente e candidato à reeleição nos Estados Unidos, Donald Trump, e o que também promove agora o presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Em 14 de maio, o jornalista Beto Ortiz, em seu programa na TV Willax, atacou o presidente do Júri Eleitoral Nacional (JNE), Jorge Salas Arenas, a quem chamou de “juiz vermelho” e “defensor dos terroristas”.

LEIA MAIS – O que está por trás dos ataques de Keiko Fujimori a Lula no Peru. Por Murilo Matias

A celebridade televisiva, que se orgulha de ser “politicamente incorreta”, fez alusão à militância estudantil do magistrado e a defesa, como advogado, feita em nome de pessoas acusadas de ligação com o Sendero Luminoso (grupo de guerrilha peruano surgido nos anos 1960). Isto foi a senha para que fujimoristas, que tentam classificar Pedro Castillo como “comunista”, pedissem a saída de Salas por não considerá-lo imparcial.

Espalhando temor

O presidente do JNE fez uma declaração pública no domingo (16) denunciando o que considera ser uma campanha contra o sistema eleitoral, com a finalidade de “exercer pressão e amedrontar, utilizando os meios de comunicação”. Explicou ainda que há 30 anos havia sido contratado pela Comissão Episcopal de Ação Social (CEAS) da Igreja Católica “para defender as pessoas que necessitavam de assistência jurídica”, numa época em que também exercia a profissão de advogado. “Esses casos”, diz, “tiveram um procedimento de avaliação segundo os critérios a que se referem os organismos internacionais dos quais o Peru faz parte.”

Em matéria do El Diario, a jornalista Gabriela Wiener atenta para a avalanche de fake news no segundo turno e para a influência do fujimorismo nos meios de comunicação. Um controle evidenciado pela demissão da diretora de reportagem da rede América Televisión-Canal N, Clara Elvira Ospina, que teria se recusado a submeter a linha editorial da emissora ao apoio à candidatura de Keiko Fujimori.

Fake news nas eleições do Peru

Assim como os veículos da mídia comercial, parte da elite econômico-financeira do Peru jamais deixou de ser fujimorista, sentimento reforçado agora, já que seu adversário no segundo turno vem do campo da esquerda e tem ligação com movimentos sociais do país. E a difusão do medo do “comunismo” é uma das principais armas da filha do ex-ditador Alberto Fujimori, que governou o país de 1990 a 2000.

Até a figura do jogador do Barcelona Lionel Messi entrou em campo contra Castillo, mas na forma de fake news. Uma imagem do atleta segurando uma faixa com os dizeres “Peru, diga não ao comunismo” e “comunismo não” passou a circular nas redes sociais peruanas há alguns dias. A imagem que viralizou foi adulterada a partir de uma campanha que alerta para a poluição dos oceanos da qual o argentino participou – Run for the oceans –, divulgada em suas redes sociais.

A imagem falsa foi divulgada, entre outros, pelo candidato de extrema-direita à presidência, derrotado no primeiro turno das eleições do Peru, Rafael López Aliaga, assim como por apoiadores do seu partido, Renovação Popular. No segundo turno, ele já declarou voto em Keiko Fujimori.

A imagem falsa divulgada pelo político de extrema-direita Rafael López Aliaga e, abaixo dela, a original

Outra fake news que circula intensamente na campanha presidencial peruana também envolve o futebol. Após alguns jogadores da seleção nacional como Luis Advíncula, Pedro Gallese, Paolo Hurtado e Miguel Trauco, entre outros, terem declarado voto em Keiko Fujimori, começaram a circular imagens de postagens falsas como se fossem do partido Peru Livre pedindo que as pessoas não comemorassem gols da seleção do país. Pedro Castillo negou que a legenda tivesse pedido algo semelhante e solicitou que os perfis falsos fossem denunciados.

A seleção peruana é a penúltima colocada nas eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 2022. Em quatro partidas, tem um empate e está à frente da Bolívia pelo saldo de gols.

Castillo à frente

A duas semanas do segundo turno, pesquisa divulgada neste domingo (23) mostra que Pedro Castillo está à frente, com mais de 10% de vantagem sobre Keiko Fujimori.

De acordo com o levantamento do Instituto de Estudos Peruanos (IEP), encomendado pelo La Republica, Castillo tem 44,8%, enquanto sua adversária tem 34,4% dos votos. Brancos e nulos totalizam 12,8%. A son