O que está por trás dos ataques de Keiko Fujimori a Lula no Peru. Por Murilo Matias

Atualizado em 22 de abril de 2021 às 9:57
Os adversários se referem a Keiko como senhora K, em alusão às acusações de lavagem de dinheiro imputadas à candidata

Por Murilo Matias

A liderança conquistada no primeiro turno da eleição presidencial peruana com 19% dos votos pelo professor Pedro Castillo chamou a atenção não somente do eleitorado, como de toda a América Latina pelo resultado até então considerado impossível a um candidato de esquerda.

Entre as manifestações, o apoio do ex-presidente da Bolívia Evo Morales às propostas do candidato do Peru Livre provocou que o nome do ex-presidente Lula aparecesse na campanha através de um ataque proferido por Keiko Fujimori, a qual pela terceira vez tenta chegar à presidência.

“Quero dizer claramente, não se meta em meu país,fora do Peru Evo Morales. Não aceitamos sua ideologia do socialismo do século 21, dizemos fora ao comunismo, fora Maduro, fora Lula e esse tipo de ideologia que quer destruir, gerar divisão e trazer pobreza ao nosso país”, arremeteu a filha do ex-ditador Alberto Fujimori.
Nem o presidente venezuelano, nem o ex-presidente brasileiro fizeram qualquer comentário a respeito do processo eleitoral peruano.

“Keiko sinaliza à direita regional. A viagem do recém presidente eleito do Equador Guillermo Lasso à Colômbia de Ivan Duque aponta nesse sentindo e ressalta a articulação do bloco reacionário na região”, comenta o analista político Luis Nunes.

O radicalismo encorpado pela candidata, acusada de lavagem de dinheiro pela Lava Jato local, é uma tentativa de se contrapor à agenda popular de Castillo e assim reverter o elevado antivoto, mas pode converter-se em futuros entraves nas relações bilaterais.

Caso Lula se eleja novamente em 2022 e Keiko volte a colocar o sobrenome Fujimori no centro do poder no Peru ambos se encontrariam na condição de chefes de estado.

A política brasileira e peruana estiveram estritamente afinadas na década de 90, especialmente pela relação desenvolvida entre Alberto Fujimori, cujo governou atravessou toda a década e Fernando Henrique Cardoso, presidente entre 94 e 2002.

FHC e Fujimori foram aliados de primeira ordem na década de 90

Mesmo nos momentos de crise do fujimorismo o Brasil era um aliado fiel e parceiro estratégico para respaldar as ações autoritárias levadas a cabo internamente pelo aliado de turno. A agenda neoliberal, uma imprensa de maneira geral alinhada aos interesses governistas e a aprovação do instituto da reeleição são características que confundem ambas as administrações.

Acusado de corrupção e violação dos direitos humanos ao fim de seu mandato no ano 2000,Fujimori recebeu de FHC em 1999 a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, máxima honraria concedida pelo estado brasileiro. O titulo posteriormente foi cassado em 2002 através de proposição apresentada pelo então senador Roberto Requião (MDB-PR).

O professor e agricultor Pedro Castillo tenta uma vitória histórica contra a direitista Keiko Fujimori

A primeira pesquisa divulgada em relação ao segundo turno da atual disputa apontou vantagem de 42% de Castillo frente a 31% de Keiko com evidente diferença de classe e geográfica entre os votantes: os mais pobres e moradores do interior escolhem massivamente a esquerda enquanto as classes médias e altas limenhas preferem o fujimorismo, que reforça o discurso do medo à medida que a eleição de 06 de junho se aproxima.