Destaques

Levamos um drible de Casemiro. Por Moisés Mendes

Publicado no Blog do Moisés Mendes

Casemiro

O ambiente do futebol brasileiro pode não ter chegado ao ponto de ser de maioria bolsonarista. Ainda não. Mas é de uma maioria alheia à realidade do país.

Ninguém pode cobrar engajamento às grandes questões nacionais de profissionais de uma área que apenas durante a ditadura (e com raras exceções) explicitou posições não alinhadas com a direita.

Chega a ser cansativo ver as pessoas repetindo que o bom mesmo foi a época de João Saldanha e mais tarde de Sócrates, Afonsinho, Reinaldo (o do Atlético, pouco lembrado), Casagrande, Vladimir.

É difícil citar muita gente. A alienação é a marca do futebol entre dirigentes, técnicos, jogadores, narradores, comentaristas. Os fora da caixa são meia dúzia de abnegados à democracia.

É bom incluir nessa lista o sociólogo Adilson Monteiro Alves, diretor de futebol do Corinthians no início dos anos 80. Adilson era inspirador e aliado dos jogadores.

Hoje, o que o futebol brasileiro tem é um grupo de militantes bolsonaristas explícitos, às vezes dissimulados, outras vezes furiosos e ostensivos, incluindo de novo comentaristas e narradores gaúchos. A crônica esportiva gaúcha é reacionária como não foi na ditadura.

Tudo coerente com a realidade. O jogador brasileiro, que atua aqui ou na Europa, parece jogar em Marte. A Seleção, grife do bolsonarismo como identidade verde-amarela, foi sequestrada há muito tempo pela direita e depois pela extrema direita.

A camiseta está em poder do fascismo dos bacanas de classe média há muito tempo. Por isso é surpreendente que a Seleção, com jogadores alheios à realidade brasileira, tenha ameaçado um boicote não à Copa América, mas ao próprio Bolsonaro, o genocida que insistiu no Brasil como sede de um torneio que não vale uma caixa de cloroquina.

Por caminhos tortos e atalhos imprevisíveis, que envolvem interesses diversos, e não só a desculpa da pandemia, a Seleção ensaiou uma conspiração contra os interesses políticos do sujeito que é ídolo de muitos jogadores.

Seria bem feito para os dois lados, que se merecem, apesar de Tite ser uma exceção como sobrevivente em meio a calhordas, pilantras, alienados, assediadores e corruptos.

Mas foi apenas um drible. Quando Casemiro anunciou, depois do jogo contra o Equador, na sexta-feira, que a decisão estava tomada e era decisão de grupo, todos esperavam que a Seleção finalmente desafiasse o poder de Bolsonaro.

Mas não foi desta vez. Prevaleceram o interesse econômico e o acovardamento. Bravura, nos esportes, não é para os fracos. Os jogadores são tão subservientes quanto os militares.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Moisés Mendes

Recent Posts

Quaest: “Lula 3” tem o maior número de projetos aprovados no Congresso desde 1994

Na tarde desta terça-feira (30), Felipe Nunes, diretor da Quaest Pesquisa e Consultoria, usou sua…

2 horas ago

EUA: polícia invade Universidade de Columbia e prende manifestantes pró-Palestina 

Na noite desta terça-feira, a Polícia de Nova York entrou na Universidade Columbia para remover…

2 horas ago

1º de maio: Ministro do Trabalho exalta criação de vagas e aumento do salário mínimo

No Dia do Trabalho, celebrado em 1º de maio, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho,…

3 horas ago

Deputados trumpistas farão sessão sobre “democracia brasileira” no Congresso dos EUA

Na próxima semana, o Congresso norte-americano realizará uma audiência para discutir uma suposta crise da…

3 horas ago

Lula: Bolsonaro “gastou US$ 60 bilhões” para se manter no poder e “tentou dar golpe”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a afirmar na manhã desta terça-feira…

3 horas ago

TSE suspende julgamento de Jorge Seif para que novas provas sejam produzidas

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deliberou, nesta terça-feira (30), pela complementação da produção de provas…

4 horas ago