Por Renato Janine Ribeiro
Terminei de ler o catatau que é “Tchau querida”, a memória de Eduardo Cunha, que foi a personagem mais atuante para promover o impeachment de Dilma Rousseff.
Confesso: é chato. Não recomendo, exceto para quem quiser conhecer muito bem a política no que tem de mais chão, isto é: a simples troca de vantagens entre um e outro atores políticos.
Cunha não apresenta um único ideal, um único projeto. Bem poderia ter dito: sou defensor do capitalismo, faço tudo para o meu Estado (o Rio de Janeiro) prosperar ou, mesmo, dizendo-me evangélico, luto pela moralidade das condutas.
Não diz nada disso.
O que ele conta são negociações, acordos, promessas, trocas.
Seu maior mérito, do qual se gaba, é que cumpre acordos.
O que ele critica no PT é que este, segundo ele, não cumpre acordos. Assim, depois que Dilma incumbiu Temer de fazer sua articulação política no difícil ano de 2015, ela não teria cumprido as promessas que o então vice fez, a fim de conseguir aprovar projetos de lei de interesse do governo. Parece verdade, porque muita gente já disse isso sobre Dilma e Mercadante. Há quem considere que Dilma caiu por isso.
Mas o problema é que nunca Eduardo Cunha diz para que seriam esses acordos. Repito: poderiam ser para fortalecer a economia (assunto que lhe interessa), aumentar a justiça social (tema pelo qual não tem o menor interesse) ou o que fosse, mas não aparece nada.
O fato de que todo o processo de impeachment tenha dependido de uma pessoa que utilizou o cargo para negociar sua absolvição nos processos contra ele é significativo e mostra a que nível caiu a política brasileira no período que levou à destituição de Dilma.
O ódio que mostra por Alessandro Molon, um dos deputados talvez mais dignos do Congresso, por Mercadante, o procurador geral Janot e, depois de conseguido o impeachment, por Rodrigo Maia, que ele chama de traidor, bem como por Temer, que a seu ver também o traiu (mas a quem odeia menos do que a Maia) não tem vínculo nenhum com politicas que eles tenham feito ou deixado de fazer.
É um documento que mostra o que é a política quando os meios – as negociações e acordos – substituem por completo os fins: os propósitos, ideais, projetos.
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