Lula e o resultado vergonhoso do Brasil no ranking mundial de democracias. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 1 de fevereiro de 2018 às 21:34
Lula na Casa de Portugal. Foto: Ricardo Stuckert

Os números divulgados pela última pesquisa Datafolha revelaram um cenário político nacional que vai muito além das eleições de outubro próximo.

A impressionante capacidade de Lula em resistir a um dos mais ferozes e covardes ataques orquestrados já vistos a um político na história recente mundial, surpreende não só pela sua forma, mas, sobretudo, pelo seu conteúdo.

Vítima de um conluio formado pelas mais altas esferas do poder em consonância com o capital internacional e a grande imprensa oligopolista do Brasil, Lula mantem-se como peça central no xadrez político do país.

Líder disparado em todos os cenários apresentados, o ex-presidente, diante sua atual condição, acabou por tornar-se, mais do que um pré-candidato, um termômetro da democracia brasileira.

Condenado em segunda instância pela escandalosa peça teatral encenada pela borra do judiciário desse país, seu inconstitucional impedimento poderá levar a nação a um nível de descrédito, desrespeito, insatisfação e desesperança para com as instituições jamais presenciado em toda nossa história republicana.

Confirmando-se o que ficou claro na pesquisa, a ausência de Lula nas urnas poderá colocar em xeque todo o sistema político e democrático brasileiro.

Os percentuais de intenções de votos em branco e nulo em função de seu impedimento ilegal, apresenta para o futuro presidente, seja ele quem for, um horizonte nebuloso em que sua própria legitimidade será seguramente questionada.

É evidente que após a pesquisa, ninguém mais da direita deve sustentar a cara-de-pau de dizer que prefere ver Lula na disputa.

Seguindo a mesma toada, ninguém ignora que a sua participação reduz à lama as chances de retorno dos velhos caciques ao poder.

Como o golpe de 2016 não foi feito por principiantes, não importa para eles o que virá depois, Lula precisa mesmo ser impedido. Até porque, se Michel Temer serve para alguma coisa, é para provar que esse país pode ser conduzido – à base de propina – por canalhas, para canalhas.

Acontece que o momento em que tudo isso se dá não poderia ser pior. Segundo o relatório recém divulgado pela Economist Intelligence Unit, as democracias do mundo inteiro estão em crise.

No Brasil, com a deposição da presidenta Dilma Rousseff, o país caiu vertiginosamente nesse ranking internacional. Daí para cá, só pioramos e hoje somos classificados como uma “democracia falha”. Ocupando a 49ª colocação num total de 167 nações, estamos atrás de países vizinhos como Argentina e Chile.

Some-se tudo isso a mais um atentado ao direito de os cidadãos brasileiros escolherem o seu próprio presidente e, sob os critérios de avaliação da EIU, nos aproximaremos perigosamente de um regime eminentemente ditatorial.

Tudo exposto, ninguém pode se furtar de comprovar que qualquer esperança de retomada da normalidade democrática, institucional, política e social passa impreterivelmente pelo direito constitucional de Lula se candidatar.

Que o povo, o sagrado e verdadeiro detentor do poder, julgue o destino do maior líder popular da América Latina. Qualquer coisa fora disso poderá ser a ruína definitiva de toda uma nação.

Não deixa de ser curioso que Lula, um homem que dedicou sua vida pelo pleno exercício da democracia, tenha vivido para chegar ao assombroso momento da história em que novamente o fascismo se insurge.

Talvez de uma maneira ainda mais profunda e direta do que na ditadura militar, para continuar viva e plena no Brasil, a democracia, mais uma vez, precisa de Lula.