“Marinha está em crise”: almirante diz que cortes de verba ameaçam segurança do Brasil

Atualizado em 30 de outubro de 2023 às 12:48
Almirante Marcos Sampaio Olsen, comandante da Marinha. Foto: Pedro França/Agência Senado

A Marinha do Brasil precisa de investimentos urgentes para evitar redução significativa de sua capacidade operacional e de dissuasão. Segundo o comandante da Força Naval, almirante Marcos Sampaio Olsen, em entrevista ao Estadão, a corporação enfrenta uma crise em suas operações devido à redução de recursos destinados à manutenção e modernização de suas embarcações.

A situação crítica é agravada pela iminente aposentadoria de 40% das embarcações da Força nos próximos cinco anos, o que deixará as costas brasileiras vulneráveis a ameaças externas.

Segundo o almirante, a Marinha precisa desativar cerca de 43 embarcações até 2028, incluindo navios de desembarque, fragatas, submarinos convencionais, navios-patrulha, navios-patrulha fluviais, navios-varredores, navios de assistência hospitalar e outros meios de defesa. Essa desativação representaria uma redução de cerca de 40% dos meios operativos da instituição.

“A baixa de um meio sem a correspondente recomposição pode implicar a degradação de capacidades da Força Naval e sua prontidão para atender a diversas tarefas previstas, em particular aquelas voltadas à defesa da soberania, à segurança marítima, ao atendimento de tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário e ao apoio às ações do Estado, como calamidades públicas, assistência às populações ribeirinhas e combate a crimes transfronteiriços e ambientais”, explicou para a coluna Marcelo Godoy.

Além disso, o orçamento destinado à Força Naval tem sido insuficiente para atender às demandas operacionais e de manutenção. Desde 2017, houve um déficit de R$ 3,3 bilhões no investimento da Marinha, comprometendo sua capacidade de modernização e atualização de equipamentos. O almirante defende a destinação de 2% do PIB para a Defesa, a fim de garantir a sustentabilidade financeira e recuperar o poder de defesa do país.

Tropa da Marinha do Brasil. Foto: reprodução

“Uma Força sem mobilidade por restrição de combustível e com baixo poder de combate pela escassez de munição não cumpre eficazmente sua missão. Consequentemente, sua capacidade de dissuasão fica comprometida. E uma Força que não tem capacidade de dissuasão peca em sua razão e essência de ser”, argumentou Olsen.

Diante da redução de recursos, a Marinha enfrenta restrições significativas na aquisição de munição e combustível, afetando suas operações de defesa e segurança marítima, bem como sua participação em operações internacionais. Isso compromete a capacidade de dissuasão da instituição, levantando preocupações sobre a segurança das águas territoriais brasileiras.

Apesar dos desafios enfrentados, o almirante ressalta a importância de promover uma mentalidade de Defesa e conscientizar a sociedade sobre a importância do investimento na Marinha. Ele destaca que a capacidade de dissuasão é essencial para a defesa da soberania nacional e a proteção dos recursos naturais, enfatizando a necessidade de um orçamento adequado para garantir a prontidão e a eficácia das operações navais.

Sobre as relações civis-militares, a Marinha reforça seu compromisso com o Estado Democrático de Direito e destaca a importância de um debate profissional e transparente sobre questões de Defesa. A instituição mantém relações contínuas e necessárias com as demais esferas de poder, buscando promover um diálogo construtivo e informado sobre as questões estratégicas do país.

Quando questionado sobre como os atos golpistas de 8 de janeiro influenciam o debate sobre os temas da Defesa, Olsen respondeu que “essa questão está sendo tratada em foro adequado, não cabendo à Marinha emitir opiniões a respeito”. “Sem entrar no mérito da pergunta, é importante transmitir o entendimento da Marinha quanto à relevância de se promover uma mentalidade de Defesa, assegurando maior espaço de discussão na agenda nacional”, explicou.

Participe de nosso canal no WhatsApp, clique neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link