Maurício X Casagrande: não há reabilitação para mau-caratismo. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 29 de outubro de 2021 às 18:42
Veja o Casagrande e o Maurício Souza
Casagrande falou sobre o caso de Maurício Souza – Foto: Montagem

A escritora e colunista Nathalí Macedo escreve sobre a crítica do comentairsta Casagrande, da Globo, sobre o jogador de vôlei homofóibico Maurício Souza. Ele atacou os quadrinhos do Superman bissexual e vai para cima de minorias LGBT nas redes sociais.

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Maurício versus Casagrande

Desempregado, o jogador de vôlei Maurício Souza – mais famoso pelas merdas homofóbicas que posta do que pelo talento pro esporte – não desiste de se autodeclarar homofóbico sem que ninguém precise perguntar.

Depois de ser dispensado do Minas pelas posturas preconceituosas nas redes sociais, o jogador publicou uma imagem em que o Superman beija a Mulher-Maravilha para reivindicar, mais uma vez,  a heterossexualidade do herói. Aparentemente, pra ele, isso é tudo que importa: tudo bem ficar desempregado, desde que o c* do super-man esteja a salvo.

Esse é o nível de esquizofrenia dessa gente: levar preconceitos como bandeiras mesmo que isso implique em prejuízos consideráveis, como a própria carreira, e depois agir como um mártir se sacrificando que vai até o fim pelas próprias convicções (quando acabar, a maluca sou eu).

E já que, como disse Suassuna, “gente besta e pau seco é coisa que não acaba no mundo”, a tag #SomosTodosMauricioSouza esteve nos trending topics ontem. Tanta bandeira por aí precisando ser levantada e milhares de pessoas sobem uma tag em defesa de um cara que, além de homofóbico, tem um gosto horrível pra memes (tá explicado como Bolsonaro chegou à presidência).

No “Seleção SporTV”, o comentarista Carlos Casagrande disse o que todas as pessoas sensatas (que não defendem criminoso na internet e chama isso de liberdade de expressão) gostariam de dizer: “É crime. É covardia. E é mau-caratismo. Principalmente e especificamente o Maurício Souza. E eu estou falando com propriedade, porque ele foi mau-caráter comigo. Então, para mim, ele é mau-caráter”

E isso foi só o começo. Casagrande lembrou do episódio em que Jair Bolsonaro (apoiado por Maurício Souza, vale lembrar) acusou-o de satanista. “Dei uma entrevista para a revista Playboy, falei que ele era mentiroso. Obviamente que ele nem falou nada, porque é mentiroso mesmo”

Tempos depois, Maurício Souza, seguidor de Jair Bolsonaro (como não poderia deixar de ser) editou um trecho de entrevista e postou como uma “prova” das acusações de Jair – seria a famigerada “fake News dos infernos?”

“Casagrande Satanista” combina bastante, aliás, com outras fake News pra lá de criativas como marxismo cultural e kit gay, por exemplo. Same energy, como diriam os jovens.

Sem reação diante das críticas do comentarista e ex-atacante, o bolsominion jogou baixo: usou a luta de Casagrande contra as drogas para ataca-lo. Porque não basta ser homofóbico: é preciso reunir outros preconceitos no pacote. Não tem jeito: é como se compõe a persona bolsonarista, é o jeitinho bolsominion de ser.

“Não julgueis para não ser julgado, a mesma medida que julgar alguém, você também será julgado. Chama todo mundo de homofóbico e Nazista somente por discordar do pensamento da pessoa. Aí quando chamam ele de viciado, cheirador, se faz de vítima e diz “isso era uma doença”, mas adora julgar as pessoas”, escreveu o volante em seus stories do Instagram.

Começar com um versículo bíblico, seguir para uma acusação e por fim, na intenção de se fazer de vítima, acusar o outro de se fazer de vítima: Maurício Souza desnudou toda a retórica bolsonarista em um só story. Mais didático, impossível.

E o pior é que a premissa principal dessa afirmação não poderia ser mais a cara (de pau) do bolsonarismo: homofobia (um crime) é comparável a dependência química (uma doença) (???)

Só que não.

Existe reabilitação pra dependência química – alô, alô, Fábio Assunção ayahuasqueiro – mas pra falta de caráter, meus amigos, não há clínica que dê jeito.

E, ainda que homofobia fosse uma doença, a reabilitação seria dificílima, se não impossível diante da recusa do homofóbico em ajudar a si próprio.

Quando o dependente químico se vê desempregado, cancelado e humilhado, em geral ele se trata. Já o homofóbico não se emenda nunca: depois da demissão, ele vai pra casa postar beijo hétero e passar mais um pouquinho de vergonha.