Médicos que receitaram o golpe hoje são alvo de perseguição de bolsonaristas e pressão para dar cloroquina

Atualizado em 26 de julho de 2020 às 10:04
Médicos fazem enterro simbólico de Dilma e Padilha em 2016: hoje eles morrem

Os médicos brasileiros viraram vítimas do bolsonarismo na pandemia.

Segundo o Estadão, pesquisa da Associação Paulista de Medicina mostra que metade de 2 mil entrevistados relatou pressão para dar remédios sem comprovação científica contra a covid-19.

Eles são ameaçados, agredidos e intimidados.

Uma intensivista de 32 anos pediu demissão do Hospital Geral de Vila Penteado, em São Paulo, após ser chamada de “assassina” por parentes de um paciente, a quem ela se recusou a prescrever cloroquina.

Extremistas pediram a morte do presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Clóvis Arns, nas redes.

No Ministério da Saúde, o presidente demonstra seu desapreço pela classe e e pela ciência mantendo um general que não sabe geografia na cabeça da pasta.

Profissionais estão sendo obrigados a engolir a droga propagandeada por Bolsonaro. Em alguns casos, literalmente. Estão morrendo em casa em infarto.

“Queremos ficar longe dessa briga ideológica”, diz Arns.

Bem, agora é tarde.

Eles deixaram sua marca no golpe. Saíram às ruas de jaleco e nariz de palhaço. Xingaram os cubanos. O lobby funcionou a todo vapor. 

Torceram pela morte de Marisa Letícia, abjurando Hipócrates.

Organizaram o enterro simbólico de Dilma e de Alexandre Padilha em Brasília. 

Ajudaram a eleger um homem anti-Ciência, que odeia o estudo, a universidade e a vida.

Em maio, o país já tinha enterrado mais enfermeiros do que Itália e Espanha juntas. Nem os doutores que apostaram nas fake news e receitaram curas milagrosas escaparam da ceifadeira.

As entidades, tão presentes no impeachment com comunicados “contra a corrupção”, se acoelham, perdidas.

O Conselho Federal de Medicina, CFM, não recomendou o uso da hidroxicloroquina, mas o liberou. A Associação Médica Brasileira, AMB, deixou a decisão a cabo de cada profissional.

Lavou as mãos.

Quanta diferença.

Em 2016, o presidente da AMB, Florentino Cardoso, afirmou que “o Brasil estava à deriva por um governo e um partido mergulhado em corrupção, levando o país para um regime autoritário, caminhando para o bolivarianismo”.

Seu homólogo na CFM, Carlos Vital, declarou que, com Dilma fora, “existe afirmação de governabilidade, feita de modo coerente com o Estado Democrático de Direito”.

Após o grampo criminoso em Lula, a Fenam, Federação Nacional dos Médicos, lançou campanha contra a “crise política, econômica e moral” e manifestou apoio “total e irrestrito” ao então juiz Sergio Moro.

São como as emas — pássaros que não saem do chão.

Com a diferença de que as emas sabem muito bem reconhecer e tratar charlatões fascistas.

Bolsonaro mostra cloroquina para ema
Notas das entidades médicas contra Dilma e o PT