Sem controle, sociólogo diz que meios digitais amplificam discursos da extrema direita

Sérgio Amadeu define bem a situação

Atualizado em 20 de fevereiro de 2022 às 16:36
Sérgio Amadeu no DCM
Sérgio Amadeu no DCM. Foto: Reprodução/DCMTV/YouTube

Em entrevista à Fundação Heinrich Böll, o sociólogo Sérgio Amadeu, membro do Comitê Gestor da Internet no Brasil, doutor em Ciência Política e professor da Universidade Federal do ABC, fala sobre os possíveis rumos das plataformas digitais e das redes sociais neste ano eleitoral.

O também criador, editor e apresentador do podcast Tecnopolítica vai além e discorre sobre a dualidade e as implicações do uso de Inteligência Artificial e as previsões sobre o Metaverso e a realidade virtual, e seus impactos atuais e futuros sobre o cotidiano real.

Nos últimos anos, as discussões em espaços digitais tomaram proporções tanto gigantescas como graves, ocasionando até mesmo manifestações em massa no mundo real, como as de julho de 2013 no Brasil.

Assim, essas manifestações foram amplamente acordadas em espaços como Facebook e acabariam por ser o ovo da serpente no surgimento da extrema direita no Brasil.

Como consequência, o processo culminou no impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff, em 2016. E além disso, na eleição de Jair Bolsonaro dois anos depois.

Junto a isso, cresceu a disseminação de teorias conspiratórias internet afora, no qual as chamadas big techs controlam como e quando o fluxo de informações chega aos usuários. Contudo, esse controle serve muitas vezes como fonte de desinformação em massa.

“A extrema direita mundial decidiu romper com a democracia e com o debate racional baseado em fatos. Por isso, a desinformação é uma estratégia global do novo fascismo. Assim, atacam a ciência e as universidades, como temos visto atualmente no enfrentamento da pandemia”, explica Amadeu.

É nesse contexto que redes sociais como WhatsApp e YouTube tiveram papel fundamental na disseminação de ideais ultraconservadoras e fundamentalistas.

De lá para cá, é possível ver uma piora no cenário. Por exemplo, com a pandemia, o negacionismo e as teorias conspiratórias causam estragos severos por todo o mundo.

“As plataformas são gerenciadas por sistemas algorítmicos que são inteiramente opacos. Não podemos dar mais poder às plataformas. Elas se colocam como espaços de debate público, por isso, devem seguir os princípios democráticos e não autocráticos”, avalia o sociólogo.

Por fim, ele avalia que situação é grave, mas que é preciso que a sociedade civil esteja a par destas ações e participar ativamente destes debates, garantindo, no mínimo, uma participação e que outros atores sejam ouvidos.

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Veja trechos da entrevista de Sérgio Amadeu

Estamos em ano de eleições e o uso das plataformas de redes sociais, aplicativos e utilização de big data nas campanhas têm ganhado cada vez mais espaço no cenário eleitoral.

As eleições brasileiras de 2018 foram marcadas pelos disparos em massa por meio do Whatsapp e a disseminação de desinformação.

O que podemos esperar deste ano? As plataformas têm atualizado suas políticas de moderação de conteúdo. Mas elas estão mais preparadas para a enxurrada de desinformação?

O atual fenômeno da desinformação tem diferenças significativas dos boatos e mentiras tradicionais nas disputas políticas. Primeiro, as redes digitais permitem uma distribuição massiva e, simultaneamente, microssegmentada, ou seja, é possível atingir pessoas específicas e estimular medos e receios desses grupos sociais. Segundo, a extrema direita mundial decidiu romper com a democracia e com o debate racional baseado em fatos.

Por isso, a desinformação é uma estratégia global do novo fascismo. Assim, atacam a ciência e as universidades, como temos visto atualmente no enfrentamento da pandemia.

As plataformas, por sua vez, ganham muito dinheiro com a espetacularização da vida. Não são principalmente os discursos radicais que mais ganham acesso nas redes de relacionamento online, são discursos espetaculares, mesmo que infundados, desinformativos.

Texto da Rede Brasil Atual.

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