Memórias de uma advogada libertina: capítulo 2. Por ANÔNIMA

Atualizado em 9 de outubro de 2015 às 10:31
Um desenho de Milo Manara
Um desenho de Milo Manara

Este é o segundo capítulo do folhetim Memórias de uma Advogada, escrito por Anônima. O primeiro está aqui.

Anteriormente: minha amiga e eu havíamos feito talvez a grande descoberta sexual de nossas vidas: éramos capazes de sentir prazer sem um homem. Mas com um, confesso, era incomparavelmente melhor. Eu continuaria, portanto, com aventuras heterossexuais – só que com o plus da descoberta de que mulheres também são capazes de me satisfazer plenamente.

Eu finalmente decidira me mudar. Sair de um apartamento minúsculo e barulhento no centro da cidade para um prédio charmoso numa rua tranquila realmente me parecia uma boa ideia.
Cheguei à casa nova e cheia de caixas entulhadas e fui recebida pelo novo vizinho.

Ele era filho do dono do apartamento que eu alugara. Era daqueles que ganham a sua simpatia numa conversa de cinco minutos. Era alto e tinha no máximo trinta anos – pelo que supus, porque não ousei perguntar – e com algumas dezenas de tatuagens espalhadas pelo corpo definido e uns olhos amendoados que me deixaram com uma incontrolável expressão tarada – que ele notou, porque era realmente tão esperto quanto parecia.

Deu-me as boas vindas como um bom anfitrião, se dispôs a me ajudar caso eu precisasse de algo e voltou ao seu apartamento, bem em frente ao meu. Era uma boa vizinhança, pensei.
Era hora do almoço e eu precisava descobrir o que havia por perto para uma jovem que mora sozinha e é mal-sucedida na cozinha.

Usava um vestido velhinho, daqueles que de tão usados se ajustam ao nosso corpo e os cabelos castanho-claro presos num coque bagunçado (como a minha vida). Fechei a porta e notei que não pegara a minha bolsa – e nem as chaves do apartamento. Estava presa do lado de fora. Parece que eu precisaria da ajuda do vizinho simpático mais cedo do que ele podia imaginar.

Bati à sua porta com uma expressão meio marota, meio envergonhada. Ele abriu sorridente:

– Oi, vizinha. Tudo bem por aí?

– Então, não. Eu consegui trancar o apartamento com as chaves dentro no meu primeiro dia de estadia. Você tem uma cópia?

– Relaxa, eu resolvo isso pra você.

Passou por mim, mais perto do meu corpo do que o necessário, subiu no parapeito da varanda e pulou habilidosamente a minha janela. Abriu a porta e se deparou com a minha cara de surpresa diante de tamanha eficiência.

Almocei num restaurante charmoso na rua de casa enquanto pensava em quantas situações eu gostaria que aquele homem pulasse a minha janela. Aquilo mexeu mais comigo que os seus olhos amendoados.

Passei os próximos dias perdida entre a bagunça da minha sala e o tesão descomunal pelo meu novo vizinho. Vez ou outra via-o através da janela lateral, sempre nu da cintura pra cima. Cumprimentava-o cortesmente enquanto queria bater na sua porta e conseguir mais do que uma xícara de açúcar.

Num dia particularmente cansativo de jornada dupla no escritório e com a arrumação da mudança, pus uma música gostosa, acendi um cigarro e me debrucei na janela. Avistei-o e, no primeiro trago, ele se deu conta de que eu estava de calcinha e camiseta branca.

Olhou satisfeito e sorriu maliciosamente. Dei de ombros e virei-lhe as costas, tão propositalmente quanto era capaz. Peguei uma taça de vinho e voltei à janela. Passamos alguns minutos numa comunicação não verbal de olhares e sorrisos. Não havia o que pudesse ser dito. Vi-o sumir da janela e ouvi três batidas decididas na porta. Eu já sabia a que ele vinha.

– Você tem outra taça desse vinho?

Fiz que sim e fui buscar, sem o menor desconforto pelos meus trajes. Senti seu olhar me perfurando. Cheguei muito perto e entreguei-lhe a taça. Nossas bocas estavam agora a alguns centímetros uma da outra, e eu resolvi me demorar ali. Ele me deu um beijo lento, daqueles que desbravam cada centímetro da língua, enquanto me puxava para o seu corpo e percorria as minhas costas por debaixo da camiseta. Pôs as taças sobre a mesa – como quem já se sente em casa – virou-me contra a parede e mordeu forte e lentamente o meu pescoço, enquanto tirava meus cabelos de seu caminho ora com força, ora com delicadeza.

– Eu sabia o que você queria.

Ele sabia mesmo. Afastou meu notebook e me fez sentar na minha mesa de trabalho. Ela tinha a altura perfeita, como se tivesse sido feita pra isso. Cruzei as pernas em torno de seu corpo e puxava-o contra a minha boceta enquanto nos beijávamos como se não houvesse uma janela aberta bem na nossa frente. Ele afastou minha calcinha de algodão para o lado, abriu minhas pernas tanto quanto era possível e me invadiu com uma língua quente e habilidosa. Eu me contorcia e gemia incontidamente, até gozar enquanto pressionava seu rosto na minha boceta.

Aquele gozo o despertou ainda mais – mesmo que isso parecesse realmente impossível depois de tanto tesão – e ele desabotoou a calça e me penetrou forte e de uma só vez, como um animal instintivo e apressado, até que eu sentisse seu gozo quente entre minhas pernas. Ficamos ali alguns segundos, imóveis e ofegantes. Empurrei-o sutilmente para sair de seus braços, peguei um copo d’água e quebrei o silêncio:

– Foi incrível, mas acho que preciso dormir. Não foi um dia fácil. Se importa em ir agora? Sua mulher deve acordar a qualquer momento.

Ele esboçou uma expressão de espanto – porque certamente pensou que seu casamento fosse um segredo pra mim. Bem, não era. E isso não me incomodava, ao contrário, me excitava ainda mais.

– Claro, linda. Boa noite. – disse, com uma naturalidade perspicaz.

Beijou-me a boca despretensiosamente, como se não tivéssemos acabado de protagonizar uma transa insana, e se despediu.

Sorri ao vê-lo sair pela porta. Não queria um estranho na minha cama. Nenhuma intimidade além daquela que o próprio sexo proporciona.

Acendi outro cigarro e vi sua jovem esposa me olhar pela janela com um olhar que eu não conseguia – e não queria – decifrar.

(Continua.)