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Militares foram usados por Bolsonaro e não sabem como sair do governo. Por Moisés Mendes

Jair Bolsonaro e os militares. Foto: PR

É doloroso para um civil arrependido admitir que está saltando fora do bolsonarismo para salvar a própria alma. A vaia o espera nas redes sociais. Mas é ainda mais complicado para um militar fazer o mesmo.

Esses são os grupos que enfrentam os maiores dilemas com o esvaziamento do poder da extrema direita da família que empregava o Queiroz.

Os civis comuns, sem cargo no governo, podem dizer que se deram conta do erro e pedir desculpas publicamente. A situação dos militares é bem difícil.

Bolsonaro militarizou o governo para criar um lastro de defesa e produzir seus blefes. A estratégia se esgotou há pelo menos duas semanas.

Os militares só continuam no governo porque não é fácil sair. Eles são reféns da própria armadilha. Aderiram a Bolsonaro como projeto de poder, porque se consideravam competentes para gerir o Estado, e foram usados por Bolsonaro.

Bolsonaro os enganou. Sugeriu que poderia governar respeitando as Forças Armadas, mas os atraiu para armadilha de um desgoverno de conflitos e tensões permanentes e mais o histórico de rolos com milícias.

Os militares foram transformados em cúmplices de uma esculhambação e são parceiros no setor público de uma família sob investigação por ligações com bandidos.

Os generais sabiam disso, mas esperavam que a situação não fosse explicitada. E agora? Debandar como, depois de participar de atos contra o Supremo? Sair como, depois de ameaçar com a instabilidade política e a intervenção ‘moderadora’ do Exército?

Sair de que jeito depois de serem parte da farsa montada com as ameaças de golpe? Poderão sair sem conflitos com o próprio Bolsonaro e com as alas de extrema direita das Forças Armadas?

Sairão sem uma rebelião dos 3 mil empregados ex-fardados, que teriam de voltar a usar pijama?

É dura a vida dos arrependidos que são vaiados pelas esquerdas. Mas é pior o drama dos militares, que poderão definhar ao lado de Bolsonaro, até o total esgotamento do governo.

Um civil arrependido pode ser espancado nas redes sociais e se recuperar mais adiante. Um militar carrega nas costas a reputação das Forças Armadas.

O Data Folha revelou que 75% dos brasileiros querem viver sob democracia. Que 78% consideram o regime militar iniciado em 64 uma ditadura. E que 68% entendem que os atos de rua contra o Supremo ameaçam a democracia.

Não podemos esquecer que os militares de Bolsonaro foram com o chefe paparicar os frequentadores desses atos em Brasília. O blefe do golpe custou caro.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/

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Moisés Mendes

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