Militares instalados no governo querem transformar fim da mamata em crise. Por Leandro Fortes

Atualizado em 2 de dezembro de 2022 às 17:30
Jair Bolsonaro e militares
Foto: Marcos Corrêa/PR

 

A impossibilidade de se criar um grupo de trabalho, dentro do gabinete de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, para tratar dos maus modos da caserna, acabou por provocar um efeito colateral capaz de beneficiar pelo menos oito mil militares enfiados, por Jair Bolsonaro, dentro da administração pública federal.

A ausência de um relatório específico, além de não garantir a precisão desse número, deu aos apaniguados de Bolsonaro, quase todos parasitas sem qualquer qualificação para os cargos que ocupam, a chance de incluir uma ação simples de exoneração dentro do pacote de crise militar que se transformou a indicação do próximo ministro da Defesa.

Parte da estratégia de Bolsonaro para dominar os núcleos de decisão do serviço público, a invasão de militares na administração pública transformou ministérios, autarquias e órgão federais em campos de uma disputa feroz, principalmente entre oficiais da reserva, interessados engordar a aposentadoria com salários comissionados oferecidos pelo governo. Em abril, ainda na pré-campanha, Lula adiantou-se ao problema e chegou a prometer resolver a questão com uma canetada, dentro da prerrogativa que lhe viria junto com a Presidência da República, no caso de vencer as eleições.

E não poderia ser diferente: cada militar desse, em um governo petista, é um inimigo em potencial, com acesso a informações estratégicas e, em maior em menor grau, com capacidade de boicotar ações de governo.

A inesgotável capacidade que os militares brasileiros têm de incutir medo e apreensão no debate político, no entanto, conseguiu transformar uma questão puramente burocrática – a exoneração de servidores em cargos comissionados – num bicho de sete cabeças. Nem os generais golpistas ligados ao bolsonarismo, que jamais fizeram qualquer defesa pública desse pessoal, poderiam imaginar que o pânico generalizado nas hostes petistas iria lhe jogar mais esse trunfo no colo.

O resultado é que, por razões ainda a serem explicadas, cogita-se fazer uma demissão sequenciada, um desastre anunciado que poderia ser evitado a partir da leitura de um conselho básico da obra mais conhecida de Maquiavel, “O Príncipe”, disponível em qualquer buraco de internet: “Quando fizer o bem, faça-o aos poucos. Quando for praticar o mal, é fazê-lo de uma vez só”.

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