Molhou até a mão de Bolsonaro: Catar abre a Copa sob suspeita de corrupção e violação de direitos

Em visita ao país, o capitão da reserva e sua comitiva puseram no bolso relógios Hublot e Cartier que chegam a valer R$ 70 mil

Atualizado em 20 de novembro de 2022 às 14:00
Jair e sua comitiva comeram na mão do emir que derrubou o próprio pai num golpe de Estado

O Catar que recebe a Copa do Mundo – a seleção local enfrenta o Equador, às 13 horas, após a cerimônia oficial de abertura – é um país misógino, discriminatório, sem compaixão – e corrupto.

Um dos mais ricos do planeta por causa das fartas reservas de petróleo e gás natural, constitui-se de um Estado absolutista e hereditário comandado por uma mesma família há mais de 150 anos.

Em 1995, o xeque Hamad bin Khalifa Al Thani tomou o controle do governo após depor o próprio pai em um golpe – todos os cargos de primeiro escalão são de livre nomeação do mandatário.

Em se tratando de uma Copa, principal evento esportivo do mundo, natural que o que chame a atenção seja a proibição de consumo de bebida alcólica.

Mas há outras questões polêmicas: as relações entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo, são punidas com rigor e amparadas no código penal.

A poligamia masculina é autorizada – “desde que o homem trate bem todas as mulheres” – e o adultério feminino punido com chibatadas, de 60 a 100 açoites dependendo do caso, e até apedrejamento.

O pequeno pais de apenas 2,8 milhões de habitantes – desses, 2,5 milhões são trabalhadores estrangeiros tratados num regime de semiescravidão – situado na Asia Ocidental entre a Arábia Saudita e o Bahrein desenvolveu uma técnica de persuasão nas relações externas baseada na corrupção pura e simples.

Construção dos estádios no Catar: trabalho escravo

Foi comprando os votos dos Conselheiros da FIFA, em 2010, entre eles o do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, conforme denúncia do New York Times, que conseguiu tornar-se sede da Copa.

Em 2019, durante uma visita, Bolsonaro conheceu na prática os métodos usados pelo país nas suas relações bilateriais: na ocasião, o ainda chefe do Executivo brasileiro não se importou de botar no bolso relógios Hublot e Cartier que chegam a valer R$ 70 mil recebidos das mãos do próprio Tamim bin Hamad al-Thani.

Também voltaram com os presentes o então ministro sanfoneiro, Gilson Machado, da pasta do Turismo, o ex chanceler lelé Ernesto Araújo, o aliado Osmar Terra, baluarte na luta contra a vacina da Covid-19, um contra-almirante da Marinha, Sergio Ricardo Segovia Barbosa, e até um membro da XP Investimentos, Caio Megale, que, na ocasião, ocupava cargo no Ministério da Economia.

Além deles, o então ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni, e Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, igualmente foram agraciados.

É preciso fazer justiça a um dos membros da comitiva: relatos apontam que Roberto Abdalla, na ocasião embaixador brasileiro em Doha, achou por bem devolver o relógio Hublot que recebeu “em razão do seu custo elevado”.

O caso foi parar no Comitê de Ética Pública da Presidência, mas, bem ao feitio do “fim de feira” do atual governo, tudo acabou como “dantes no quartel d´Abrantes”, para usar uma expressão recente do atual vice-presidente e senador eleito (RS), Hamilton Mourão – no fim, cada um ficou com o seu, pronto e acabou.

Craque do Real Madrid, Vini Júnior é uma das apostas do time comandado por Tite – Reprodução

Acossada pelas insinuações de vigarice mundo afora, a Fifa vem pedindo que as seleções foquem no futebol, ainda que seja impossível ficar alheio à política em um cenário tão polêmico fora das quatro linhas.

Na prática, a competição, que precisou ser alterada para os meses de novembro e dezembro em função do calor local, terá 32 seleções divididas em oito grupos e avançando pelo mata-mata até a final.

O Brasil está no Grupo G, com Sérvia, Suíça e Camarões. O time comandado por Tite estreia na quinta, 24, às 16h, contra a Sérvia.

Especialistas apontam França, Alemanha, Brasil e Argentina como os favoritos ao título.

A promessa veste a camida da Alemanha: o camaronês Youssoufa Moukoko, atacante de 17 anos do Borussia Dortmund, acabou convocado e pode tornar-se o mais jovem atleta a anotar um gol em Copas após Pelé. 

Moukoko já é considerado um fenômeno no futebol: aos 13 anos, marcou 40 gols em 28 jogos na categoria sub-17 pelo time alemão.

 

Youssoufa Moukoko, estrela da seleção da Alemanha
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Jose Cassio
JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo