Moro e MBL querem se livrar de Mamãe Falei, mas são tão sujos quanto ele. Por Nathalí

Atualizado em 5 de março de 2022 às 9:34
Sergio Moro ao lado do Mamãe Falei e membros do MBL
Sergio Moro ao lado do Mamãe Falei e de membros do MBL

Fazia tempo que eu não sentia vontade de chorar com nenhum absurdo bolsonarista. Não que ser brasileira nesses tempos não seja sofrível, mas três anos desse inferno (somados aos anos também tristes, embora nem tanto, do golpista e agora abandonado Michel Temer), foram suficientes para que eu pudesse me blindar contra tanto terror. Mas só até ontem.

Ontem, quando tive acesso aos áudios asquerosos de Arthur do Val sobre as mulheres ucranianas, eu senti vontade de chorar de novo – eu e muito provavelmente tantas outras mulheres.

O Deputado, que postou uma foto nas redes sociais em que aparecia supostamente produzindo molotovs para os ucranianos, disse toda sorte de absurdos criminosos sobre as refugiadas de guerra em áudios que vieram a público através do jornalismo sério do Diário do Centro do Mundo.

“É fácil pegar as ucranianas, porque elas são pobres” talvez seja o pior desses absurdos, mas confesso que é difícil dizer.

Enquanto um país enfrenta os horrores da guerra, Mamãe Falei pensa em se aproveitar sexualmente de mulheres pobres, vulneráveis, massacradas pelas bombas e pelo medo. Permitam-me ir um pouco além do asco que isso me causa, para lembrá-los o óbvio: se transar com alguém se torna mais “fácil” porque esse alguém está vulnerável (seja porque está bêbada, drogada, inconsciente ou liquidada pela desgraça de uma guerra), então não há consentimento.

Tirar proveito sexual de uma situação em que mulheres não têm condições de consentir ou não consentir coisa nenhuma tem um nome no ordenamento jurídico brasileiro: estupro de vulnerável.

Eu gosto de usar um tom sarcástico quando escrevo sobre qualquer integrante do MBL – porque eles são patéticos e é isso aí – mas hoje simplesmente não dá. Não há piada possível diante de um ser humano tão terrível quanto Arthur do Val.

E por falar em piada, num país sério essa declaração seria suficiente à cassação do mandato deste energúmeno. Respingaria em todos os seus aliados políticos, destruiria por completo sua vida pública e estancaria todo o chorume de onde ele veio. Mas não aqui.

Aqui, um deputado pode dizer que se aproveita de mulheres vulneráveis e pode ainda compará-las às brasileiras em uma declaração que – não me digam que vocês não perceberam? – é, além de nojenta e desumana, racista também.

O que a frase “na fila de refugiadas ucranianas tem mais mulher bonita do que na melhor balada brasileira” quer dizer, no fim das contas? Quer dizer o mesmo que dizem os memes racistas que têm viralizado ao compararem ucranianas com brasileiras. Pra gente como Arthur, “gente bonita” é “gente branca”, europeia, cabelo lisinho, olhos claros, cara de ucraniana fugindo da guerra, pronta pro abate.

“Dá pra limpar o c* das ucranianas com a língua”, como disse esse infeliz – sim, isso aqui só piora – porque pra gente como ele as europeias são limpas, e as tupiniquins são sujas. Porque no leste europeu, para completos imbecis como Arthur do Val, cu tem cheiro de flores.

Mas há uma coisa que, aos olhos de criaturas desprezíveis como este deputado, unifica todas as mulheres: brancas, pretas, brasileiras, ucranianas, na fila de refugiados ou na fila das baladas: todas são passíveis de serem abusadas e todas devem ser tratadas como pedaços de carne, bonecas sexuais, objetos, enfim.

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O posicionamento do MBL sobre isso?

Lamentar publicamente, é claro, mas não por ter se aliado a uma figura desumana e hostil, e sim porque “é o fim da terceira via.” Essa é a grande preocupação do Movimento Brasil Livre e de seu candidato Sérgio Moro.

“Jamais comungarei com visões preconceituosas, que podem inclusive ser configuradas como crime. Meu respeito incondicional às mulheres em geral e às ucranianas, em especial, porque além de todos os problemas diários enfrentados, precisam conviver com os horrores da guerra”, declarou o ex-ministro da justiça de Jair Bolsonaro e aliado político de Arthur do Val.

O “respeito incondicional” de Moro às mulheres é notório quando ele se coloca como peça fundamental para a eleição de um presidente que ameaçou bater uma parlamentar e xingou-a de vagabunda diante das câmeras.

Conta outra, conje.

Assim como outros bolsonaristas (como Gil Diniz, do PL, que apoiará a representação de parlamentares do PT contra Arthur), agora Sérgio Moro e os outros bolsonaristas travestidos de “terceira via” querem desvencilhar sua imagem do grotesco Mamãe Falei.

O próprio MBL, parido por Arthur – O MBL não pariu Arthur, Arthur e Catupiry pariram o MBL – quer se desvencilhar do homem que está no congresso graças a uma articulação política conjunta de um grupo que obviamente comunga dos mesmos posicionamentos que ele.

É fácil, agora, tirar o corpo fora e fingir que nunca nem viu o entusiasta de estupro de refugiada. Como a ex-namorada do Deputado, seus aliados políticos pensam que podem simplesmente postar que seguirão “caminhos diferentes” e salvar o que resta de suas imagens públicas, e nos fazer esquecer que o MBL, Mamãe Falei e Sérgio Moro saíram do mesmo buraco lodoso.

Não: os absurdos que mamãe-falei-merd* disse sobre as ucranianas são, sim, reflexos de um posicionamento coletivo de seu grupo político, de uma desmoralização sistêmica às mulheres que é, aliás, característica do MBL.

As falas criminosas de Arthur do Val também são de responsabilidade do grupo que o colocou em um espaço de poder, de seus conchavos políticos, das pessoas que se relacionaram com ele e das que votaram nele.

A cassação de seu mandato é um imperativo diante da gravidade dos fatos, mas não é suficiente – é preciso repetir, até que fique bem entendido: Sérgio Moro e o MBL são tão sujos quanto Arthur do Val, e é bom que os brasileiros – e sobretudo as brasileiras – lembrem-se disso em outubro.

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