Mulher que mantinha idosa como escrava em cárcere privado é bolsonarista e cidadã de bem. Por Daniel Trevisan

Atualizado em 24 de novembro de 2019 às 9:30
Elcio e Marina Okido, que mantinham a idosa em cárcere privado

A Polícia Civil prendeu na madrugada desta terça-feira em Vinhedo, na região de Campinas, um casal que manteve em cárcere privado, durante mais de 20 anos, uma idosa de 63 anos, que era obrigada a trabalhar em situação análoga à escravidão.

A história é escabrosa e tem um detalhe que não passou despercebido das pessoas que localizaram o perfil da mulher que está presa, Marina Okido: ela fez campanha para Jair Bolsonaro na eleição para presidente, com a expressão “PT Não” e “Bolsonaro 17 – Muda Brasil de Verdade”.

Além de Marina Okido, foi preso o marido dela, Élcio Pires Júnior.

Com a mulher agora presa, foram encontrados os documentos da idosa, que vivia em um cômodo do fundo da casa, sem contato com exterior e cuidava da mãe de Marina, de 88 anos.

Marina tinha aberto uma conta bancária em nome da idosa e usava cheques para aplicar golpe.

O cárcere privado nunca teria sido descoberto se um comerciante não tivesse pedido ajuda da Polícia para investigar o casal.

Na casa de Élcio e de Marina, quando já se preparavam para sair, os policiais foram abordados pela idosa, que disse que o caso era muito mais grave. Mas ela não queria dizer nada se não recebesse proteção.

Foram todos levados para a delegacia e lá ela contou que, há mais de 20 anos, deixou Colorado, no Paraná, para trabalhar como empregada doméstica de Marina Okido. Não tinha registro e foi obrigada a deixar seus documentos com a patroa. A conta foi aberta, mas ela nunca recebeu salário.

A idosa já tinha morado com o casal em Campinas, nas mesmas condições, e agora estava em Vinhedo.

A família dela já tinha registrado um boletim de ocorrência no Paraná pelo desaparecimento, o que confirma a denúncia de que ela não tinha contato exterior. Se tivesse, teria entrado em contato com seus parentes. Ela também relatou que já foi agredida pelo casal.

A vítima foi levada para um abrigo municipal e conversou com assistente social Giordia Bezerra, que ficou impressionada com o que ouviu.

“A sensação que a gente tem é que, como ela vive nesse isolamento social, ela não sabe onde ela mora, ela não sabe onde fica Vinhedo, não sabe que bairro é aquele, ela não tem noção de onde ela está e ela relata que não tem convívio com outras pessoas mesmo”, disse Giorgia Bezerra.

O casal foi preso em flagrante, acusados dos crimes de estelionato, tortura e cárcere privado.

Enquanto estiver presa, Marina Okido não poderá mais usar a rede social para manifestar apoio ao capitão que preside o Brasil.