“Não depende do líder para sobreviver”: especialista explica por que o bolsonarismo continua forte

Aqui no Brasil a direita cresceu ano passado, só perdendo com Bolsonaro

Atualizado em 27 de agosto de 2023 às 15:18
Ex-presidentes: Donald Trump e Jair Bolsonaro. (Foto: Reprodução)

Cas Mudde, professor da Universidade da Geórgia, EUA, durante entrevista ao Globo, comentou acerca do atual cenário político vivido pela extrema direita, tanto com relação ao “trumpismo” quanto com relação ao “bolsonarismo” no Brasil. Para o estudioso, por mais que a ideologia política do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) esteja “mais fraca” hoje, as correntes de direita ainda se mostram bem consolidadas e as eleições de 2024 que definirem novos prefeitos devem mostrar isso.

(…)Apesar dos processos judiciais, é provável que Trump concorra nas eleições de 2024, com chances de vencer. Esse contexto prova a resiliência da ultradireita nos EUA ou apenas a de Trump?

Os dois. Para Trump, é altamente provável que, se não estiver no poder, irá para a prisão ou perderá muito dinheiro. Ele não está lutando apenas por sua sobrevivência política, mas por sua liberdade. E, claro, quanto mais processos judiciais houver, mais incentivo terá para ir com tudo. Não digo que não deveríamos ter as ações judiciais, a democracia e o Estado de Direito pedem isso, mas é uma consequência lógica.

Ao mesmo tempo, a ultradireita nos EUA, particularmente no Partido Republicano e mais além, trava sua própria batalha política. Seus membros se convenceram de que os democratas representam tudo que é do mal. Assim, não lutam por uma eleição. Ao menos nos três últimos ciclos eleitorais, a direita considerou que a derrota corresponderia a perder o modo de vida americano, a democracia. Portanto, embora se alinhem amplamente, a ultradireita continuará lutando sem Trump. E Trump fará um acordo, se puder, e se livrará da ultradireita, se isso lhe trouxer alguma vantagem. Ele está nessa por si mesmo, e muitos na a ultradireita entendem isso, o acham problemático. Mas ele é sua melhor aposta em derrotar o que para muitos, em termos religiosos, é o anti-Cristo.

A resiliência de Trump seria um alerta também sobre o bolsonarismo?

Podemos falar de trumpismo e Trump, e bolsonarismo e Bolsonaro. As ideologias estão profundamente arraigadas, e isso foi um processo de longo prazo, em grande parte uma radicalização dentro da direita tradicional, tanto religiosa quanto não. E elas se uniram ao redor de Bolsonaro e Trump, e isso as radicalizou. Consequentemente, se Trump e Bolsonaro desaparecerem, isso permanecerá.

O que se vê no Brasil é que o bolsonarismo foi adaptado por todo tipo de político. A grande diferença é que, nos EUA, há só um partido trumpista, mas que ainda é controlado por Trump. Isso se deve, em parte, às diferentes respostas ao plano golpista no Brasil e nos EUA. No Brasil, a posição de Bolsonaro é mais fraca. Claro que não o ajuda o fato de ter ficado inelegível. Mas muitos de seus aliados ideológicos não vieram em sua defesa após o 8 de janeiro. Poucas semanas depois, mudaram de lado, diferentemente daqui.

No momento, o bolsonarismo está mais fraco do que o trumpismo por estar mais fragmentado, mas, por outro lado, fortaleceu-se em partidos tradicionais, da corrente dominante. Ele vai assumir uma forma diferente, que será mais difícil de detectar. Não virá de alguém elogiando ditaduras e fazendo declarações claramente sexistas, mas de políticos da corrente tradicional que atraem confiança por outras questões. Não defino isso como mais ou menos perigoso, porque é algo muito difícil [de fazer], mas em uma forma diferente. Mas em ambos é muito forte. Em ambos não depende do líder para sobreviver.

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