Não é este homem, mas são estas ideias que governam o país. Por Fernando Brito

Atualizado em 17 de fevereiro de 2021 às 10:40

Publicado originalmente no Tijolaço:

Por Fernando Brito

Se alguém ainda duvidava que pudesse ser exagero a afirmação feita aqui que o decreto liberando até 60 armas para “caçadores” e “atiradores esportivos” é uma forma de preparar uma milícia armada para atirar no lixo as liberdades eleitorais e políticas no Brasil, acordar hoje com a visão da besta bolsonarista Daniel Silveira xingando e ameaçando dar uma “surra, batendo na cara com um gato morto até ele miar” no ministro Luiz Edson Fachin dissolve qualquer ilusão remanescente.

Ou veja, no “meme” do próprio brucutu parlamentar, o que ele deseja. Aliás, entre seus “projetos” está o uso por professores de escolas públicas, de armas de eletrochoque para defenderem-se das crianças que ameaçam “os cidadãos de bem”, estes mesmos que Bolsonaro quer armar.

A principal pergunta é, agora, o que representa isso e o que fazer.

O que representa, é preciso que se diga que aquilo é Jair Bolsonaro em estado puro, sem amarras, sem censura. Não obstante os bíceps e peitorais “bombados”, a pequenez mental e os conceitos da sociedade são absolutamente idênticos.

Não é este homem, mas são estas ideias (vá lá) que governam o país e são elas que comandam e ganha a adesão da camada dominante das Forças Armadas ou, pelo menos, a do Exército.

Ou alguém viu, mesmo com os três anos de atraso com que o fez Fachin, manifestando discordância da intromissão do comandante – e de todo o comando – do Exército nas decisões da corte suprema do país?

A pergunta que o brutamontes faz tem sentido: porque é que não se mandou prender o general Villas Boas, por transgressão do Art 5º, XLIV, CF – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

Se o comando do Exército não é um grupo armado, o mais bem armado do país, o que será?

Daniel Silveira deve ter como única punição o fato de ir ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, onde talvez (apenas talvez) perca o mandato.

Mas haverá efeitos políticos. O primeiro será o crescimento da resistência dos deputados a permitir o que o presidente da Casa vinha ensaiando: deixa “passar batido” os decretos armamentistas editado por Bolsonaro. Logo a seguir, a oposição a que uma “Daniel Silveira de saias”, Bia Kicis, como presidente da Comissão de Constituição e Justiça.

Fachin não tem muita moral para reagir à matilha da qual libertou, abrindo juridicamente seu canil, mas o Supremo fica mais perto de reagir, tentando empurrar de volta o portão político que continha esta cainçalha.

Mas não agir será deixar o fascismo e a bestialidade se tornarem a lei deste país.