Não é só a Ku Klux Klan: as tochas usadas pelos “300” de Sara Winter são herança dos desfiles nazistas

Atualizado em 31 de maio de 2020 às 9:11
Desfile nazista com tochas na Alemanha

Sara Winter e seu bando dos “300 do Brasil” marcharam diante do STF com palavras de ordem na noite de sábado, dia 30.

A coreografia ensaiada de maneira porca era iluminada por tochas, as mesmas usadas nos protestos de supremacistas em Charlottesville, nos EUA, em 2017.

A Ku Klux Klan foi lembrada pelos rituais em que racistas mascarados queimavam cruzes.

Mas quem usava transformou as tochas definitivamente em símbolos de intimidação, superioridade e poder foram os nazistas.

No “Mein Kampf”, Adolf Hitler escreve que a suástica tinha um efeito semelhante “ao de uma tocha flamejante” e a pureza racial era “o combustível para a tocha da cultura humana”.

Elas eram frequentes nos desfiles do nazismo.

Em 30 de janeiro de 1933, quando Hitler se tornou chanceler da Alemanha, membros do partido se exibiram em Berlim à noite.

O embaixador francês André François-Poncet assistiu a tudo de uma janela e descreveu a cena:

“As tochas formaram um rio de fogo no coração da cidade. Desses homens de camisa marrom e bota, enquanto marchavam em perfeita disciplina e alinhamento, suas vozes aguçadas cantando canções de guerra, surgiram entusiasmo e dinamismo extraordinários”.

Melita Maschmann, então com 15 anos, nunca esqueceu o que viu:

“Alguns dos sentimentos estranhos daquela noite permanecem comigo até hoje. Os passos estrondosos dos pés, a pompa sombria das bandeiras vermelhas e pretas, a luz tremeluzente das tochas nos rostos e as músicas com melodias ao mesmo tempo agressivas e sentimentais.”

Sara criou sua versão tabajara desse carnaval macabro.

A única pergunta que realmente importa é: como é que essa pilantra não está em cana?

https://www.youtube.com/watch?v=TNVMeLzX4vM&feature=emb_title

 

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.