Destaques

Não há esperança para a democracia enquanto o nó da democratização da mídia não for desatado. Por Luis Felipe Miguel

Logotipo da Globo. Foto: Divulgação

Publicado originalmente no perfil de Facebook do autor

POR LUIS FELIPE MIGUEL, cientista político

No final dos anos 1970, diante das grandes greves do ABCD paulista, a Rede Globo optou por mentir descaradamente. Exibia imagens de arquivo como se fossem novas: os pátios das montadoras lotados, para mostrar que a produção estava a todo o vapor. E, claro, um discurso agressivo contra os trabalhadores e os sindicatos.

Quer dizer: não tem greve, mas os grevistas são inimigos do Brasil. Uma coisa tipo Moro diante da VazaJato.

Hoje, com a internet, fica mais difícil investir nesse tipo de falsificação.

Mais importante: o resultado não é inteiramente o esperado. Mesmo que seja para noticiar o “fracasso” da greve e a “sordidez” dos grevistas, está lá a lição de que esse tipo de luta é possível.

Sobre isso, há o bom livro de Carlos Eduardo Lins da Silva, Muito além do Jardim Botânico, que mostra como o noticiário enviesado sobre as greves do ABCD contribuiu, mesmo assim, para animar a luta de trabalhadores rurais.

Por isso, diante da greve dos petroleiros em curso, a mídia corporativa opta por outra estratégia: o silêncio.

Silêncio desonesto. Silêncio criminoso.

Silêncio que revela, por si só, que não há esperança para a democracia enquanto o nó da democratização da mídia não for desatado.

De forma lapidar, Janio de Freitas denuncia a hipocrisia da imprensa, que posa de vítima de Bolsonaro mas é cúmplice ativa de suas políticas: “Os que publicam críticas à censura de livros, como devem, não fazem cobertura da greve”.

São mais de 20 mil trabalhadores de um setor estratégico de braços cruzados, em 56 plataformas e 12 refinarias, há mais de duas semanas. Como isso não é notícia?

O problema é que, há anos, o esforço tem sido dizer à classe trabalhadora que ela não tem como resistir.

Que vai perder seus direitos, sua aposentadoria, seu poder aquisitivo, seu emprego, e não pode fazer nada. Que aperte os cintos, que pedale pro UberEats pra tirar um troco.

Que toda solução é individual, que sindicato não serve para nada, que classe não existe.

Os petroleiros desmoralizam esse discurso. Por isso, a censura é imposta.

Afinal, não é como se o jornalismo brasileiro tivesse alguma credibilidade para perder.

Diario do Centro do Mundo

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Diario do Centro do Mundo

Recent Posts

Forças Armadas fizeram mais de 10 mil resgates aéreos no RS

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e os ministros Paulo Pimenta (Secretaria…

15 minutos ago

Há 1 mês, Leite flexibilizou regras ambientais em áreas de proteção de águas

Em abril deste ano, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), sancionou…

55 minutos ago

Com 50 mil em áreas de risco, Canoas ordena evacuação de 11 bairros

“Este é o episódio mais trágico da história de Canoas. Uma situação além da nossa…

1 hora ago

RS: Defesa Civil pede que pessoas não usem drones em áreas de resgate

A Defesa Civil do Estado do Rio Grande do Sul pediu aos cidadãos do estado…

2 horas ago

Fazendeiros invadem acampamento do MST e destroem plantações em Itabela (BA)

Na manhã desta terça-feira (30), fazendeiros utilizaram tratores para destruír as plantações do acampamento Osmar Azevedo,…

2 horas ago

Em 2019, Leite cortou ou alterou quase 500 pontos do Código Ambiental do RS

O Código Ambiental do Rio Grande do Sul, que levou nove anos em debate, audiências…

2 horas ago