Não há nada revolucionário na violência do PCO. Por Luís Felipe Miguel

Atualizado em 6 de julho de 2021 às 17:15
PCO. Foto: Divulgação/Diário da Causa Operária

Publicado originalmente no perfil do autor no Facebook

POR LUIS FELIPE MIGUEL, cientista político

Eu não ia falar do PCO porque não vale a pena. É uma legenda sem expressão, que a gente só lembra que existe porque está sempre criando factoides – uma pancadaria aqui, uma teoria da conspiração futebolística ali e assim por diante.

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Mas as agressões aos tucanos no sábado passado despertaram debates, então vou me posicionar.

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1) É necessário unir todas as forças possíveis em torno de bandeiras básicas, como “fora Bolsonaro” e “vacina para todos”. A esquerda sozinha não mostra força para isto, nem nas ruas, nem nas instituições. Portanto, que venha o PSDB, que venha o MBL, que venha o Novo, que venham todos os arrependidos de ocasião.

2) A esquerda tomou a iniciativa e lidera os atos. Não vai abrir mão das bandeiras igualmente importantes (contra o desmonte do Estado, pelos direitos) para as quais a direita não converge. Portanto, é errado confundir a ampliação do espectro dos atos com aquela marota “frente ampla” que cobra, como ingresso, o silenciamento da esquerda.

3) É improvável que a direita tome a hegemonia das ruas. Até agora, tudo indica que, sem o histrionismo bolsonarista, sua capacidade de mobilização é reduzida. De qualquer jeito, cabe a nós garantirmos esta hegemonia, não defini-la por exclusão.

4) Afinal, trata-se disso: ampliar os atos, dar mais força à exigência de interrupção deste governo genocida, e simultaneamente conquistar mais pessoas para um projeto de transformação social plena. Exigir certificado de pureza ideológica de quem vai às ruas não ajuda em nada.

5) Inocentes úteis ou infiltrados, pouco importa: quem age com violência só favorece seja a narrativa bolsonarista, seja a da “oposição” de direita que deseja tirar Bolsonaro mantendo a maior continuidade possível com o atual governo.

6) Há setores da esquerda que são presas de um tipo de machismo discursivo que equivale “violência” e “revolução”. Os neostalinistas ficam nas palavras, o PCO vai às vias de fato. Mas não tem nada de revolucionário nesta violência. É só uma compensação psicanalítica vulgar pela própria impotência.