Em mais um dos diálogos periciados pela Polícia Federal na Operação Spoofing, de um aplicativo de conversas por celular entre procuradores da extinta Operação Lava Jato, um dos participantes deixa claro que as autoridades do Ministério Público Federal em Curitiba tinham um grande objetivo principal: “pegar Lula”.
O trabalho da força-tarefa ganha ares de caçada quando os procuradores deixam de apurar crimes e passam a investigar não apenas uma pessoa, mas também seu familiares, com o objetivo de prender aquele é considerado o inimigo a ser batido.
No diálogo transcrito abaixo, a procuradora federal Anna Carolina Rezende conversa com o chefe da operação, Deltan Dallagnol, e se mostra receosa, no dia 23 de agosto de 2016, com a possibilidade de “não conseguir pegar Lula” apenas com as investigações relacionadas a um sítio em Atibaia e um triplex no Guarujá. Ela sugere, então, que a caçada passe a incluir os filhos do ex-presidente:
23 AUG 16
• 18:32:44 o nosso maior risco hoje ainda é uma nulidade no STF, mais do que uma opinião pública contrária
• 18:39:28 a OAS pilotou essa matéria, Deltan. Ela nunca quis colaborar de vdd. Os anexos são muito ruins. Não condizem com a empresa. Não vamos pegar Lula se nos limitarmos ao sítio e ao triplex. Precisamos buscar novas linhas, os filhos podem ser o caminho.
Um pouco adiante na conversa, a procuradora federal Anna Carolina Rezende passa a defender que os procuradores tomem lado nas disputas políticas do país, em de uma estratégia para conquistar a opinião pública. Deltan Dallagnol discorda, diz querer “bater em todos, com alguma estratégia”:
• 19:24:32 Carol PGR Deltan, p termos certeza a teremos a opinião pública sempre conosco, precisamos assumir posição na briga política do país. Sem isso, tenderemos a desagradar cada vez mais
• 19:25:06 Pq sem lado, num momento como o q vivemos, todos desconfiam
• 19:25:56 Deltan Acho que não Carol. Se batermos em todos, com alguma estratégia, creio que mantemos. Aumentamos o número de inimigos fortes, mas isso vai acontecer de qq modo.
Desde que o ministro do STF Ricardo Lewandowisk tornou públicos os autos referentes à perícia da Polícia Federal nos diálogos apreendidos com um hacker – entre procuradores e policiais da Lava Jato e, em muitos casos, com a participação do ex-juiz Sergio Moro -, uma série de novas revelações sobre o modo de agir da Lava Jato têm vindo à tona.
Em uma delas, por exemplo, os procuradores comemoram o fato de o ex-juiz ter concedido mandados de busca e apreensão no processo do triplex antes mesmo que a Lava Jato tenha pedido. Em outra, Moro e Dallagnol conversam sobre manter um investigado preso por mais tempo para força-lo a assinar um acordo de delação premiada.