No TCU, Nardes ajudou Bolsonaro a ganhar tempo para “operação resgate”. Por Jeferson Miola

Atualizado em 13 de agosto de 2023 às 13:52
Augusto Nardes e ex-presidente Jair Bolsonaro. (Foto: Reprodução)

Como relator do TCU no caso das jóias e diamantes desviados por Bolsonaro e delinquentes fardados, em 13 de março passado o ministro Augusto Nardes tomou uma decisão ineditamente rápida, e, porque não dizer, também esdrúxula.

Pode-se depreender, a partir da operação da Polícia Federal, que tal decisão pode ter sido orientada pelo objetivo de proteger Bolsonaro e ajudá-lo a ganhar tempo para recuperar o material que já tinha sido roubado, transportado num avião da FAB e vendido nos EUA.

Num passe de mágica, Nardes transformou Bolsonaro, um ladrão de jóias e diamantes, em fiel depositário dos bens que ele próprio roubou, e que pertencem à União.

O Ministério Público de Contas junto ao TCU não aceitou esta decisão surreal de Nardes e impetrou recurso exigindo que Bolsonaro devolvesse imediatamente os objetos roubados.

Nardes então modificou sua decisão original e concedeu prazo de cinco dias para Bolsonaro devolver as peças à Secretaria-Geral da Presidência. Isso aconteceu em 15 de março.

Note-se que Nardes não exigiu a entrega imediata dos bens roubados, mas concedeu prazo de cinco dias para isso. Esta decisão foi decisiva para Mauro Cid e bando, como hoje comprovam as investigações da Polícia Federal.

Ilustração: Bira Dantas

A entrega das jóias só veio a acontecer depois da “operação resgate”, que a Polícia Federal diz ter sido montada pelo tenente-coronel Mauro Cid e por Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, para recomprar em Miami as jóias que já tinham vendido por milhares de dólares.

Nardes é um agente orgânico da extrema-direita. Iniciou a carreira política pela ARENA, na ditadura, e conserva diálogo permanente com as cúpulas partidarizadas das Forças Armadas. Tem vínculos históricos com a repressão, o militarismo e o extremismo.

A participação de Nardes nos atentados à democracia ficou documentada no áudio de 20 de novembro de 2022. Nele, Nardes demonstrava saber que “está acontecendo um movimento muito forte nas casernas”. Um movimento que terá um “desenlace bastante forte na Nação”, nas suas palavras.

Apesar de ter informações privilegiadas da caserna sobre a grave ameaça à democracia que teria um “desenlace bastante forte na Nação”, Nardes se omitiu.

No mínimo ele prevaricou ao não denunciar às instituições, como corresponderia, sobre os riscos de ruptura violenta que ele conhecia e “profetizava” para a horda de fascistas fanatizados.

É inexplicável, por isso, que Nardes ainda continue desempenhando a função de ministro do TCU, e despachando normalmente na Corte.

E é também inexplicável que Nardes ainda não tenha sido incluído no inquérito do STF sobre os atentados de 8 de janeiro, em que pese a fundamentada representação apresentada por parlamentares do PT. Sobram motivos para investigá-lo e processá-lo.

Originalmente publicado no Blog do Jeferson Miola

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clicando neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link