Bastou a militância do PT e os movimentos populares reerguerem suas bandeiras para defender Lula e a democracia que vivandeiras alvoroçadas voltaram aos bivaques para bolir com os granadeiros e provocar extravagâncias do Poder Militar – como dizia o marechal Humberto Castello Branco, primeiro presidente-ditador pós golpe de 1964.
Castello Branco, figura anterior ao endurecimento do regime dos generais, a partir de 1968, referia-se, não sem esconder o asco, às ratazanas civis que se acercavam dos milicos a pedir quarteladas quando as urnas não lhes eram favoráveis.
Veio, claro, de O Globo, esse primeiro movimento abjeto, a repetir uma tradição inaugurada naquele mesmo 1964.
Que tenha vindo de Merval Pereira, nenhuma surpresa. Merval nunca escondeu – nem poderia, tamanha a falta de pudores – a quem serve sua pena, e até onde ele está disposto a chegar para agradar os desejos da família Marinho.
Mas, confesso, nunca achei que Ricardo Noblat teria coragem de chegar a esse ponto.
Eu sei, não é novidade, da guinada à direita de Noblat e de muitos outros jornalistas e intelectuais combativos e de qualidade que se tornaram tristemente conservadores na velhice.
O mesmo fenômeno ocorreu com João Ubaldo Ribeiro e Ferreira Gullar.
Ainda assim, se me dissessem, há uma década, que Ricardo Noblat um dia ocuparia espaço na imprensa para, como as vivandeiras de Castello Branco, intimidar o País com possíveis extravagâncias do Poder Militar, eu teria escarnecido do meu infeliz interlocutor.
Quando vim para Brasilia, há 26 anos, vim com duas ideias na cabeça: trabalhar no Jornal do Brasil, o meu preferido, e com Ricardo Noblat, a quem minha alma de repórter prestava enorme reverência.
Em tempos diferentes, realizei as duas coisas.
Por isso, o fim de Noblat como jornalista não me causa apenas surpresa, mas, também, dor.
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