“Nossa morte dá dinheiro para os EUA”, diz secretária da Federação Árabe-Palestina ao DCM

Maynara Nafe, da Fepal, falou ao DCM Ao Meio-Dia

Atualizado em 23 de outubro de 2023 às 15:28
Maynara Nafe
Maynara Nafe. Foto: Reprodução/DCMTV/YouTube

Maynara Nafe é secretária da juventude da Federação Árabe Palestina, a Fepal, e tem 21 anos. Denunciando o massacre dos palestinos na Faixa de Gaza, que se acentuou desde 7 de outubro, ela concedeu uma entrevista ao programa DCM Ao Meio-Dia.

Ela viajou para a Palestina duas vezes, a primeira quando tinha apenas 10 anos. 

Nessa conversa, Maynara falou sobre o assassinato de um primo seu na Cisjordânia e classificou as ações de Israel em diferentes regiões como um apartheid, que também é reconhecido por entidades como a ONU.

Confira os principais trechos da entrevista.

“Assassinaram com um tiro pelas costas”

Sou palestino-brasileira. Tenho 80% da minha família morando na Palestina hoje. Aqui no Brasil mora apenas um tio e meu pai com minha mãe e minha irmã.

O meu avô veio ao Brasil depois de tantos anos da construção da nossa família na Palestina. Foram 400 anos de construção. Nós passamos muitos anos cultivando aquela terra, cultivando as nossas oliveiras, a nossa cultura.

A guerra fez com que o meu avô tivesse que sair da Palestina para vir ao Brasil.

Nessa semana, assassinaram um primo meu com um tiro nas costas. Tomou um tiro numa operação que está acontecendo por meio terrestre basicamente em todas as cidades palestinas da Cisjordânia.

Isso está acontecendo por meio dessas operações porque há muitos assentamentos ilegais. Então eles expulsam os palestinos de suas terras e montam ali vários prédios. E colocam colonos para morarem ali no meio das cidades palestinas.

É por isso que eles não jogam bombas na Jordânia. Porque eles sabem que se tacarem bombas para nos matarem, podem atingir os seus próprios colonos.

Então eles vão por terra, fazendo essa operação terrestre e fazendo essa ofensiva pesada ao povo palestino.

“Os EUA estão se negando a mediar o conflito em Gaza”

Me recordo muito de um vídeo que eu vi recentemente do [Joe] Biden bem mais novo, da época em que ele era senador. Nesse vídeo, Biden fala que Israel foi o melhor investimento de 3 bilhões de dólares que os Estados Unidos já fizeram na sua história.

“Se não existisse Israel, nós teríamos que criar uma Israel”, diz ele. Ele fala isso porque é a necessidade de ter uma base militar na região.

Quando falamos que os Estados Unidos vetaram a resolução do Brasil, a gente fala que os EUA estão se negando a mediar a situação de conflito em Gaza.

Porque eles entendem que isso leva para eles não apenas um prejuízo preponderante ali na sua posição na região. Mas também um prejuízo financeiro.

Sabemos muito bem que as bombas são jogadas em cima dos palestinos e dão lucro pros Estados Unidos. Muita gente lucra com a nossa morte.

Não estamos falando aqui sobre um direito de defesa. A gente está falando sobre dinheiro.

A gente sabe muito bem que os Estados Unidos lucram muito com a morte do povo palestino e por isso toma essa posição de não apenas não se propor a mediar a situação, mas de vetar aqueles que se colocam nessa posição.

“O povo palestino vive sob apartheid faz 70 anos”

Acho que algumas coisas precisam ser colocadas na mesa de discussão. O povo palestino está vivendo sob um sistema de apartheid internacionalmente reconhecido.

O comitê de Direitos Humanos da ONU reconhece um apartheid na Palestina. A Anistia Internacional reconhece um apartheid na Palestina. A Human Rights Watch reconhece um apartheid na Palestina. A Harvard Law School reconhece um apartheid lá na Palestina.

A África do Sul reconhece um apartheid na Palestina. Nós palestinos estamos vivendo sob um sistema colonial há 76 anos. E cabe aqui destacar que a lei internacional garante aos povos que vivem sob colonização o direito a lutarem pela liberdade, inclusive com luta armada.

Sabe qual é a questão? É que eles querem que o povo palestino morra calado.

“Não estamos falando sobre direito de defesa, e sim sobre dinheiro”

Falamos que os Estados Unidos estão se negando a mediar a situação porque eles entendem que isso leva para eles não apenas um prejuízo preponderante ali na região.

Mas também um prejuízo financeiro. Porque a gente sabe sabe muito bem que as bombas que são jogadas em cima dos palestinos dão lucro aos EUA.

Tem muita gente que lucra com a nossa morte. A gente não está falando aqui sobre um direito de defesa. Falamos sobre dinheiro.

“A cobertura midiática do conflito em Gaza é desonesta”

Terrorista é quem explode um hospital. Terrorista é quem mata criança. Temos crianças mortas na Faixa de Gaza, além das israelenses.

E eu quero aqui destacar que aquela história do bebê degolado que a mídia brasileira circulou há tantos dias já foi desmentida até pelo próprio governo de Israel.

É desonesta essa cobertura midiática aqui no Brasil. É desonesta.

Nós estamos morrendo. Nós estamos lutando contra o sistema de apartheid.

E aqui no Ocidente, eles falam que nós somos os culpados pelas nossas próprias mortes.

Veja a live completa.

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