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“Nossa vida piorou muito. O que mais esse Doria vai cortar?”: uma mãe com filho em escola pública fala ao DCM. Por Donato

Menino tem a mão marcada para não repetir merenda em SP

Há alguns dias, a filha de D. chegou da escola e reclamou: “Estou com fome.” A mãe estranhou pois a menina costumava chegar em casa por volta das 19:20 após ter jantado na escola. Ela frequenta a EMEI Cidade A. E. Carvalho (no extremo da Zona Leste) e faz três refeições na instituição de ensino.

Ao ser questionada se não havia jantado, a criança respondeu: “Não, a professora não deixou eu repetir. Falou que não pode mais repetir o prato.”

“Isso é um absurdo, o que mais esse Doria vai cortar?”, disse a mãe ao DCM. Ela preferiu não ser identificada por receio de retaliação.

Nas EMEIs os alunos almoçam, tomam um lanche e depois jantam, antes de regressarem para casa. A gestão do prefeito João Doria alegou estar preocupada com a alimentação das crianças e disse ter instruído às escolas que não permitissem a repetição da merenda apenas quando servida na forma de alimentos industrializados.

A primeira pergunta obvia que surge é: Se está preocupada com a saúde, por que distribui merenda industrializada? Mas a desculpa esfarrada cai rapidamente quando se ouvem pais e alunos. “Não é só o lanche. Não pode mais repetir em nenhuma refeição”, afirmou D.

Pergunto se houve algum aviso, algum comunicado sobre a implantação da restrição. “Não recebi nada. Minha filha chegou falando isso no mesmo momento em que meu marido estava lendo no Facebook sobre outros pais reclamando do mesmo assunto.”

D. não sabe, mas pode se considerar uma pessoa de sorte. Pelo menos sua filha não passou – por enquanto – pelo constrangimento de ter a mão pintada de azul de modo a ficar marcada para não repetir o prato. Se o leitor estiver se lembrando de algo relacionado a judeus e nazistas, fique à vontade.

Mas D. não está nada satisfeita pois esse não foi nem o primeiro nem o único corte relacionado ao ensino. Como tudo o que está ruim sob Doria pode piorar, ela tem enfrentado mais dificuldades este ano.

“Minha vida piorou muito. Até o ano passado minha filha ia para a escola de perua gratuita. Agora ele mudou as regras e não tenho mais direito, preciso pagar transporte particular porque eu trabalho, não tenho como levar a menina.”

A mãe refere-se ao TEG (Transporte Escolar Gratuito), programa que tem por objetivo ‘facilitar o acesso dos alunos da rede pública às escolas municipais’, segundo o portal da prefeitura.

Como ‘facilitar o acesso’ é expressão com significados distintos entre população e governantes, a filha de D. já ficava de fora dos critérios estabelecidos na gestão de Fernando Haddad, mas por problemas de saúde o direito lhe era concedido. “Minha filha tem bronquite e desde que o Doria assumiu os laudos médicos estão muito mais difíceis. As pediatras estão negando todos os pedidos”, declarou.

Tão logo sentou na cadeira de prefeito, João Doria – cujo pai empresta o nome a uma outra escola pública também na Zona Leste – já deixava claro que Educação não estava entre as prioridades e os elunos iriam comer o pão que o diabo amassou (desde que não repitam o pão).

Ele prometeu ‘rever’ os gastos com material escolar, com o transporte de alunos e até com a entrega de leite, outro tema que afeta D. “Tenho uma outra filha ainda bebê e o leite, que antes era fornecido, agora está muito mais difícil de conseguir.” Em resumo, ‘rever gastos’ significa cortar mesmo. Lembra o Passe Livre Estudantil? Então, está mais ‘revisto’ também.

O prefeito João Doria, que já anda espalhando ser vítima de ‘fake news’, precisará enfrentar um protesto contra o corte na merenda que ocorrerá em frente à Prefeitura na próxima quarta-feira.

Ele, que em campanha defendeu as ideias do Escola Sem Partido, talvez faça uso de seus capangas do MBL para proteger-se. Não seria novidade. Novidade seria Doria estar em São Paulo, na Prefeitura e preocupado com a Educação.

Mauro Donato

Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.

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