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O andar de Dilma e os bastidores da posse em Brasília

 

 

O DCM foi convidado para a posse de Dilma. Vou poupar você de comentários sobre o vestido off-white e o jeito como ela anda — mas não totalmente.

Dilma percorreu as ruas de Brasília no velho Rolls Royce 1952 no início de uma tarde de 31 graus, sem vento. Perto de 40 mil pessoas, segundo a PM, a saudaram. Esperava-se mais. Os shows contratados estavam sem público. “É um recado da militância”, me disse Regina César, de Goiânia.

Falou no Congresso e, por volta das 5, se encaminhou ao Palácio da Alvorada. Subiu a rampa com o vice Michel Temer e a filha Paula e recebeu a faixa das mãos do chefe do Cerimonial da Presidência. A faixa tem 15 centímetros de largura e é a mesma usada nos desfiles de 7 de setembro. Adentrou o salão, saudou as pessoas e recebeu 70 delegações estrangeiras. Mujica foi ovacionado.

Dilma discursou no parlatório para 15 mil militantes. Em seguida, entronizou os 39 ministros. As cadeiras na plateia foram separadas por grupos de interesse. Imprensa ao fundo à direita, parlamentares, líderes religiosos, movimentos sociais, parentes de ministros e um pedaço para as “amigas da presidente”.

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O anúncio dos nomes para as pastas provocou uma reação mais espontânea do que se esperava. Gilberto Kassab (Cidades), George Hilton (Esporte), Helder Barbalho (Pesca) e Katia Abreu (Agricultura) foram vaiados. Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário), Juca Ferreira (Cultura), Berzoini (Comunicações) e Jaques Wagner (Defesa) foram aplaudidos.

Lula apareceu na primeira fila, deu um beijo em Dilma, cumprimentou Temer e sumiu. Um casal de MCs tentava, do quarto andar, dar ordens para os convidados. “Pedimos encarecidamente que se sentem”, diziam, sem qualquer resultado. O prefeito de São Paulo Fernando Haddad, com a mulher Ana Estela, atendia fãs que queriam conversar sobre as ciclovias. O burburinho, a excitação palaciana destoava da relativa calma do lado de fora.

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A festa da posse prosseguiu no Palácio do Itamaraty. Várias mesas serviam pratos típicos brasileiros: bobó de camarão, xinxim de galinha, baião de dois e escondidinho. Uísque 12 anos e champanhe da Casa Valduga.

Os bufês foram armados no primeiro andar e no terraço com vista para a Praça dos Três Poderes, a Esplanada e o Congresso. Este ganhou a preferência dos convivas, especialmente por causa de um grande salão com ar condicionado. “Não sei como ela aguenta isso”, disse um ministro. “É coisa de atleta. Eu queria estar em casa vendo TV”.

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Jornalistas cercaram Renan Calheiros e Sarney. Benedita da Silva passeava entre as mesas. Capilé, num terno preto, parecia satisfeito demais com alguma coisa que só ele sabia o que era. Padilha circulava com a mulher.

Xeques árabes marchavam à frente de suas mulheres, elas só com o rosto maquiado descoberto, mascando chicletes. Um excelente quinteto — piano, sax tenor, bateria, baixo e voz — tocava standards de samba e bossa nova.

Dilma apareceu por volta das 7 e meia. Saiu do elevador, pegando de surpresa quem achou que havia sucumbido ao calor e à canseira. Imediatamente foi cercada pelos comensais, àquela altura muito à vontade graças ao álcool. Senhoras de salto alto e vestido justo se engalfinhavam para poder se aproximar e fazer uma selfie.

Fez o possível para atender os pedidos, parando várias vezes enquanto se encaminhava para a área reservada a seus familiares. A filha Paula a aguardava lá. Kassab (que veio sozinho num vôo da Tam), George Hilton e Katia Abreu não foram ao Itamaraty, mas terão o ano inteiro para dar as caras.

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Transparência: eu tenho hérnia de disco. Você vai me perguntar o que isso tem a ver com qualquer coisa. Calma. Há dois dias tive uma crise e estou tomando um remédio chamado Tramal. Sobrevivo graças a ele.

 

 

Explico o porquê dessa confissão. A certa altura eu comentei com um amigo sobre o cansaço que provavelmente deve se abater sobre a presidente depois de mais de três horas em pé, acenando, naquela canícula. Sem contar as caminhadas, subidas de rampas e escadas etc. Para alguém de 67 anos, não é pouca coisa.

Leio agora as cretinices sobre o “andar” de Dilma. Há aí uma maledicência feminina inacreditável. Ela deveria ter a graça de Gisele Bündchen na passarela? É uma informação relevante? Qual o próximo passo? Chamar de dentuça? Anã? Sapata? Gorda?

2015 promete.

 

 

 

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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