O Brasil sob a égide da bala e do culto à estupidez. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 29 de dezembro de 2018 às 8:09
O artista plástico Rodrigo Gonçalves Camacho com a homenagem a Jair Bolsonaro, em encontro nesta sexta-feira (28) – Reprodução Instagram

Nada poderia ser mais simbólico do que o mais novo presente recebido pelo presidente eleito Jair Bolsonaro.

Um mapa desengonçado do Brasil construído a partir de cartuchos de balas em que o seu rosto resplandece em todo o centro.

Oferenda de um autointitulado artesão e designer do Rio, no que pese o terrível mau gosto, há de se admitir que a prenda condiz com a triste e brutal realidade que ora esse país se depara.

Eleito muito mais pelo sentimento de ódio, violência e culto à ignorância, um Brasil representado por um “Bolsonaro de bala” é o reflexo melancólico e anacrônico de uma sociedade que se esfacela e agoniza no chorume da própria mediocridade.

Talvez até por isso mesmo, não deixa de ser curioso que o suposto artista acredite piamente que a sua “obra” traga realmente algo de bom e de belo a partir da conjugação de dois símbolos incontestes da violência, da obtusidade, da intolerância, do preconceito, do racismo e da corrupção moral, ética e material.

Retratar um Brasil que já não se constrói com homens e livros, como queria Monteiro Lobato, mas com armas e estúpidos deveria ser um dever da arte como protesto, jamais como celebração.

É uma grotesca inversão de valores que muito diz sobre o futuro próximo que se avizinha.

Uma nação que começa a se refestelar com o primitivo instinto de matar sob a batuta de um desequilibrado que venera um torturador é o princípio falimentar de tudo que é digno, honesto e solidário.

É penoso admitir, mas milênios de avanços civilizatórios se desmoronam à nossa frente sob o que parece ser a concretização da visceral profecia de Nelson Rodrigues.

Quando legiões passam a ter orgulho de algo dessa natureza, começamos a perceber que os idiotas vão mesmo dominar o mundo.

À base de bala e de estupidez.