O caso 123 Milhas é exemplo de como funciona o “anarcocapitalismo”. Por Luis F. Miguel

Atualizado em 28 de agosto de 2023 às 21:57
123milhas. Foto: ReproduçãoLehm

O “anarcocapitalismo” está na crista da onda, depois que Javier Milei despontou na campanha presidencial da Argentina.

Quer ter um gostinho de como ele funcionaria na prática? O caso da 123 Milhas serve de exemplo.

A ideia fundamental é que, como o mercado se autorregula, não são necessários órgãos de controle ou qualquer tipo de supervisão pública.

Mas, claro, as empresas teriam incentivos para contratar auditorias privadas que comprovassem sua solidez e honestidade. O mercado, assim, proveria a informação necessária para que os consumidores se protegessem.

Da quebra do Lehman Brothers às falcatruas nas Americanas, as auditorias privadas têm mostrado muitas vezes o quanto são confiáveis… Mas isso é outra história.

Javier Milei, do partido “La Libertad Avanza” (A Liberdade Avança). Foto: reprodução

Ou, então, a empresa pode ignorar a contratação de auditorias e investir em publicidade para ganhar clientes. Como a 123 Milhas, aliás: com gasto superior a 1 bilhão de reais, foi o segundo maior anunciante do país no ano passado.

Propaganda enganosa? Tanto faz. No anarcocapitalismo, não há para quem reclamar.

Um dia o mercado se regula…

O assunto me veio à mente porque, na Folha de hoje, uma economista liberal fala do caso.

(Curiosamente, ela se apresenta como “evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres”. Não sei o que a filiação religiosa tem de importante.)

Ela define a 123 Milhas como um esquema de pirâmide. Tece considerações sobre o porquê de pirâmides serem tão frequentes. Insinua que a culpa é do público, incapaz de ver que se algo é “bom demais para ser verdade, provavelmente há grandes riscos envolvidos ou pode se tratar de uma fraude”. Limpa a barra da empresa, dizendo que ela foi “irresponsável”, evitando palavras como “desonesta” e “criminosa”.

Termina dizendo que é preciso “que autoridades como Procon e Senacon tomem as providências cabíveis”. (Ela não é anarcocapitalista. Admite a existência do Estado para forçar o cumprimento dos contratos.)

Só agora, depois do leite derramado? É preciso avançar para impedir os golpes, regulando o funcionamento deste tipo de empresa.
Porque a lição é essa: deixado por sua conta, o mercado termina sempre no vale-tudo.

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