A hora certa de parar segundo Montaigne

Você deve se retirar de cena enquanto as pessoas não querem que você se retire
 

E eis que folheio ao acaso, como de costume, Montaigne.

Paro numa passagem em que ele sublinha a importância de saber se retirar. “A mais bela das ações de Carlos V foi, imitando nisso certos personagens antigos de seu calibre, ter sabido reconhecer que a razão nos manda claramente nos despirmos de nossas roupas quando nos pesam e atrapalham e deitarmo-nos quando as pernas nos falham”, escreveu Montaigne. “Ele transmitiu riquezas e poder ao filho quando, diante da glória que adquirira, sentiu fraquejarem em si a firmeza e a força para conduzir seus negócios.”

Montaigne cita em seguida um verso em latim que sugere que devemos desatrelar nosso cavalo antes que ele ofegue e tropece “ridiculamente”.

Carlos V não deixou muitos seguidores. Ninguém quer deixar o poder, ou um cargo de prestígio, ou uma carreira que traz holofotes. No mundo das coisas mais comezinhas, a aposentadoria é um pavor para a maior parte das pessoas.

Temos a chance de sair quando querem que fiquemos, mas quase sempre permanecemos até a hora em que anseiam para que por nossa partida, Insistimos em ficar, e ficar, e ficar – até tropeçarmos ridiculamente como o cavalo evocado por Montaigne.