O dado mais importante do Datafolha: Haddad venceria se a eleição fosse hoje. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 2 de setembro de 2019 às 8:24
Haddad com os governadores: hora de construir uma frente

Um dado da pesquisa Datafolha de hoje chama particularmente a atenção. Não é o do aumento da reprovação, previsível diante do espetáculo diário de incompetência, sectarismo e vulgaridade, protagonizado nas portas do Palácio do Alvorada.

O dado mais relevante do ponto de vista politico é o dos arrependidos: pessoas que votaram em Bolsonaro no segundo turno, mas não repetiriam o gesto se a eleição fosse hoje. Essa revelação está na análise do diretor do Datafolha, Mauro Paulino. Ele escreveu:

“A prova do diagnóstico está no contingente de arrependidos —um em cada quatro dos que votaram no capitão reformado não repetiria a opção caso o pleito fosse hoje, garantindo a Fernando Haddad (PT) uma liderança apertada, mas fora dos limites da margem de erro.”

Ou seja, Bolsonaro é considerado hoje produto de um erro admitido por 25% dos seus eleitores no segundo turno.

Erro, por sua vez, proporcionado pelo ambiente polarizado da eleição, em que duas candidaturas foram interpretadas como equivalentes, e Bolsonaro, equivocadamente, foi visto como um mal menor.

A disputa sempre foi entre a barbárie representada pelo ex-deputado e a civilização, no segundo turno encarnada por Fernando Haddad.

Faltou à imprensa colocar o debate nos termos corretos. Mas já era previsível que esta não o faria, dado o antipetismo que tomou conta de seus dirigentes.

Nesse vácuo, era preciso que as lideranças políticas do campo progressista se comunicassem diretamente com os eleitores ou à sociedade, através de outros mecanismo, que o bolsonarismo usa bem, a rede social.

Também poderia fazer uma comunicação direta com a sociedade através das mobilizações corretas de campanha.

E por que isso não ocorreu?

Porque a principal liderança política do país se encontra presa, naquela época proibida de dar entrevista. E quem poderia falar por ela não teve a mesma força.

Ou esperou que, com a mediação feita pela imprensa, a tarefa fosse cumprida.

Não foi. Nem seria. Nem será.

É a política que tem de ocupar o espaço vazio, com ações concretas, não apenas no palco da velha mídia.

A pesquisa de hoje mostra que grande parte dos eleitores se arrepende.

Não é hora de tripudiar — de dizer “eu bem que avisei”.

É hora de diálogo e da construção de uma frente que ajude a consertar o estrago que já está feito e de viabilizar o retorno à plenitude democrática.