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O empresariado é o próximo pato do golpe. Por Gilberto Maringoni

O setor hidrófobo da classe média que foi às ruas exigir a saída de Dilma Rousseff em 2015-16 tomou um beiço federal dos golpistas.

Crentes que bastava tirar a mandatária para a vida melhorar, esses segmentos se veem agora diante da continuidade da recessão, reformas regressivas, aumento do desemprego, queda da renda, fim de concursos públicos, encolhimento do crédito e queda acelerada de seu padrão de vida. Ou seja, o sonho acabou.

Essa gente poderá contar, nos próximos meses, com a companhia da parcela do empresariado que opera no mercado interno. Ficou eufórica com a reforma trabalhista e chegou à conclusão ser uma boa contratar de forma intermitente e brecar o que supõe ser uma onda de processos trabalhistas, além de festejar variadas tungas nos trabalhadores.

A medida provocará no médio prazo violenta queda da participação dos salários no PIB, queda na arrecadação tributária e no financiamento da Previdência.

Aliada a outras medidas, como o fim da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) do BNDES – que oferecia financiamentos subsidiados à empresas -, a contração do crédito privado e ao aumento do desemprego, teremos um recuo forte na demanda efetiva e um encolhimento do mercado interno.

Quem produz para vender aqui dentro está lascado. Terá cada vez menos freguesia para suas mercadorias e serviços.

Que setores se beneficiam da política oficial regressiva? Basicamente exportadores – que não dependem da renda interna – e o mundo da alta finança, que depende fortemente do Estado, via conta de juros.

As exportações respondem por cerca de 12% do PIB. Ou seja, por mais que cresça, seu dinamismo sozinho será incapaz de trazer expansão à economia. De mais a mais, o Brasil tornou-se um país de renda média, a partir de 1930, através de políticas que deslocaram o motor principal da Economia do setor externo para o interno. É o que vem fazendo a China há quase duas décadas.

A profusão de estabelecimentos, empresas e um sem número de negócios fechados nos últimos meses dá uma noção do que vem por aí: quebradeira crescente.

Esse empresariado não apenas apoiou o golpe e foi às ruas, como investiu dinheiro no financiamento de parlamentares que votaram a favor da corda que agora desliza sobre seus pescoços.

O curioso é que até mesmo fábricas de panelas – produto que esteve muito em voga há dois anos – não terão vida fácil. E não é apenas porque o gás vai aumentar novamente.

Gilberto Maringoni

Gilberto Maringoni, professor de Relações Internacionais da UFABC e candidato do PSOL ao governo de São Paulo, em 2014

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