O espólio do Bolsonaro ainda vivo. Por Fernando Brito

Atualizado em 3 de dezembro de 2021 às 13:31

Publicado no Tijolaço

Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro.
Foto: Adriano Machado/Reuters

As elites brasileiras, no seu mundinho particular, dão como “morto” Jair Bolsonaro e entregam-se, avidamente, do que julgam ser seu espólio.

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Bolsonaro, é verdade, está em desagregação. Mas longe, infelizmente, de ser dado como extinto.

Sua tática de radicalização continuada, em uso até o frustrado 7 de Setembro, foi trocada por outra, da qual não se pode, até agora, medir se terá a eficácia da primeira experiência de auxílio emergencial.

É provável que nem tanto, porque o alcance e o valor serão bem menores. Mas também é certo que produzirá algum efeito, mas numa área em que nossas elites não andam e, olhando de longe, julgam que vota “pelo dinheiro”, como achava que ocorria com o Bolsa Família.

E, por isso, acotovelam-se para apresentarem alguém que, afinal, supõe que atropelar a polarização Lula-Bolsonaro. Com a licença, claro, de delirar.

E então você vê coisas surgirem na imprensa que são inacreditáveis se pararmos um minuto para penar.

Vejam alguns exemplos, todos de hoje e ontem.

Moro vai passar Bolsonaro nas pesquisas até fevereiro, avaliam presidentes de partidos“, diz a Folha, explicando que o “ex-juiz tem crescido ao participar de eventos públicos enquanto presidente cai em meio à crise econômica”.

De quais eventos públicos senão o da sua filiação ao Podemos? Tem crescido – ao menos com números significativos – em pesquisas com credibilidade? Algum ponto, dois, três, é claro, são o efeito – e abaixo de suas expectativas – da superexposição e da simpatia quase unânime da mídia. Mas está-se longe de qualquer coisa que seja possível chamar de “Onda Moro”.

Istoé, fazendo o papel de Veja, diz que “Pesquisa aponta que 61,9% votariam em candidato da terceira via“. Ao ler a matéria, ou ao ver a ilustração do texto, o que se vê é Lula com 42,6%; Bolsonaro com 24,2 – o que soma 66,8% do total) – e os demais (Moro, 7,5%; Ciro, 5,3% e Doria, 1,8%) com meros 14,6%, somados. O truque é simples: se Lula e Bolsonaro não forem candidatos, você votaria em outro candidato? Parece até aquele site O morista que, outro dia, publicou uma chamada dizendo que o ex-juiz está em primeiro, se tirarem os dois líderes da pesquisa…

E a Veja, fazendo o papel de Istoé, publica hoje a sua nova capa, com a foto de João Doria e a chamada: “A reconstrução do ninho“. Ora, se Doria merece uma legenda nesta linha, seria adequado dizer “A destruição do ninho tucano”, porque ninguém mais que ele dividiu, rachou e incompatibilizou o tucanato? Convenhamos, nem Aécio Neves.

É claro que Doria pode, montado no governo paulista, tem capacidade de reunir apoios que o façam ir além dos resultados pífios que tem hoje, mas daí a dizer que ele está em condições de reconstruir alguma coisa vai uma distância imensa.

Mais curioso ainda é que a mesma revista, ontem à tarde, publica que pesquisa “finalizada nesta semana por um grande instituto nacional mostra que Lula continua liderando as pesquisas com folga, apesar do surgimento da candidatura de Sergio Moro.(…)Pela pesquisa, Lula tem 42% das intenções de voto, na pesquisa estimulada, contra 19% de Jair Bolsonaro. Sergio Moro e Ciro Gomes aparecem na terceira posição com 5% das intenções de votos. Apesar de não estar mais no jogo presidencial, José Luiz Datena é listado no levantamento e tem 4%. João Doria tem 2%. Já Pacheco e Simone Tebet não pontuam.

Não se tenha esperança de que a mídia – ou quase toda ela – vá deixar de agir como um partido político, mas está confusa, sem saber qual é a “variante Ômicron” com que podem contagiar a opinião pública.

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