O homem que mudou a Austrália

Atualizado em 12 de junho de 2013 às 19:21
Mabo

 

Mabo. Eddie Mabo.

Australiano. Melhor, aborígene, como são chamados os nativos que vivem na Austrália há 40 000 anos, gente que levava uma vida paradisíaca, em plena comunhão com a natureza, até a chegada dos britânicos no final do século 19.

Um homem simples, tosco. Morto, mas não esquecido.

Nesta semana, os australianos festejaram Mabo, definido num artigo da BBC como “o homem que mudou a Austrália”.

A celebração se deu em torno dos 20 anos do final de um processo que Mabo moveu para reivindicar a posse da terra em que ele e a família viviam fazia muitos anos.

Ele não tinha documentos. E enfrentava uma lei sinistra que os colonizadores impuseram aos aborígenes, chamada terra nullius. Essa lei estabelecia que os nativos não eram donos da terra que ocupavam. Elas pertenciam à Coroa britânica. Muitos sequer sabiam que a terra não era legalmente deles. Mabo, por exemplo.

Isso vigorou por quase duzentos anos. Mabo foi quem desafiou, na justiça australiana, a terra nullius. Ele trabalhava como jardineiro numa faculdade de direito, e acabou travando contacto com advogados. Numa conversa, falou de sua terra. Com a maior delicadeza possível, os interlocutores lhe disseram que, legalmente, ele não era dono de nada. “Ele ficou surpreso, chocado”, lembra um dos advogados. Mas não resignado: Mabo decidiu brigar na justiça.

A luta judicial se arrastou por dez anos. Mabo não chegou a ver sua vitória. Morreu de câncer meses antes da decisão que corrigiu uma injustiça histórica na Austrália. Tinha 55 anos, e era casado desde moço com uma aborígene com um nome exótico: Bonita.

Mabo continuou a enfrentar problemas depois da morte. O memorial construído para ele foi objeto de vandalismo. Extremistas brancos pintaram suásticas e a palavra “abo”,  que é a forma pejorativa e racista de se referir a aborígenes. E fizeram desaparecer um retrato de Mabo que fora colocado no local.

Mas o tempo deu a ele o tamanho merecido.

Mabo recebeu, postumamente, uma medalha por sua contribuição ao avanço dos direitos humanos na Austrália.  E é festejado como um símbolo do combate à iniquidade não apenas pelos aborígenes mas por todos os australianos  interessados numa sociedade mais justa.