O jornalismo de guerra da Folha matou o próprio jornal. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 26 de julho de 2016 às 11:06
Jornalistas como Eleonora não apitam nada na Folha
Jornalistas como Eleonora não apitam nada na Folha

Viralizou nas redes sociais um excelente artigo da jornalista Eleonora de Lucena na Folha.

Eleonora foi editora executiva do jornal durante dez anos. Hoje, é repórter especial.

Ela não falou nada de novo, a rigor. Contou, com ênfase, os horrores que a plutocracia está promovendo no Brasil. Não só agora, mas ao longo da história. Em 1954, no golpe contra Getúlio, e em 1964, na derrubada de Jango, para ficar em dois casos.

Nada, a rigor, que você não tenha lido várias vezes no DCM, por exemplo.

O que realmente chama a atenção é a impotência de jornalistas como Eleonora dentro das redações das grandes empresas de mídia.

Nada, rigorosamente nada do que ela escreveu se reflete no jornalismo plutocrático da Folha de S. Paulo.

A Folha simboliza o mundo pútrido que ela tão bem descreveu. O escândalo do DataFolha foi apenas um entre tantos casos de canalhice editorial do jornal a serviço das mamatas e privilégios de um pequeníssimo grupo ao qual os Frias pertencem.

O verdadeiro motto da Folha deveria ser este: um jornal a serviço da plutocracia. E não, como aparece na sua primeira página, um jornal a serviço do Brasil.

No seu artigo, Eleonora disse que a elite dá um “tiro no pé” com seu comportamento que mistura ganância e miopia em doses extraordinárias.

Mas observe: onde ela escreveu elite poderia ter dito, tranquilamente, Folha.

Pois o que a Folha vem fazendo, sistematicamente, senão dar tiros no pé em seu alinhamento com a plutocracia primitiva brasileira?

Poucas semanas atrás, num seminário em Londres, o dono e editor da Folha Otávio Frias ouviu de uma jornalista britânica um diagnóstico devastador sobre a mídia brasileira.

Em sua perplexidade boçal, ele acusou a jornalista de petismo, e ainda conseguiu dizer que sentia falta de um tucano na mesa ali em Londres. (Um leitor do DCM notou que ele próprio, Otávio, já representava o PSDB.)

A imagem de jornal plural e moderno que a Folha construiu desde o início dos anos 1980 foi destruída quando a Folha se engajou no jornalismo de guerra contra o Lula, Dilma e o PT.

Publicar artigos como o de Eleonora é um truque para fingir pluralismo.

Na verdade, o que o texto mostra é que jornalistas como Eleonora têm influência zero na linha editorial.

Cada empresa jornalística suprimiu a seu modo as vozes dissonantes e progressistas. A Globo e a Abril (Veja) se desfizeram de jornalistas que não ajam como fâmulos dos patrões. O caso emblemático da Globo é o do diretor de novas mídias Erick Bretas, que chegou ao cúmulo de usar a foto de Sérgio Moro como avatar no Facebook, no qual postava inflamadas convocações para protestos pelo impeachment.

A Folha agiu diferente. Manteve-os, mas encostados e sem voz. Alguns mais inconformados deram o fora, como Xico Sá.

Este o maior valor do texto de Eleonora: mostrar o deserto frustrante que a Folha é para jornalistas de esquerda.

Está claro que o jornalismo de guerra da Folha matou o próprio jornal.