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O jovem negro que está denunciando o racismo armado de um smartphone

Rashid Polo

 

Um jovem americano virou a mais recente febre da internet depois que seus vídeos denunciando racismo se espalharam pela rede. Rashid Polo é usuário do Vine, uma rede social que compartilha vídeos de no máximo sete segundos. 

Entre zoeiras sobre a rotina de estudante e desencontros amorosos, ele costuma postar vídeos onde mostra a vigilância que sofre quando vai a uma loja de conveniência. Tudo com um humor espontâneo e debochado.

Um dos vídeos, postado em fevereiro, parece irreal, tamanho o humor involuntário. Nele, uma senhora branca se esgueira por trás de Rashid num supermercado e tenta se esconder quando percebe a filmagem.

Algumas pessoas poderão dizer que Rashid está vendo racismo onde não há, aplicando a chamada “race card”. Afinal, muitos adolescentes brancos, negros, asiáticos ou hispânicos têm o hábito de afanar coisas em lojas de conveniência.

O problema é que as situações filmadas são comum. O negro que nunca percebeu um segurança seguindo seus passos no supermercado está mentindo ou é desatento.

Nos Estados Unidos, inclusive, há uma expressão para designar essa situação constrangedora: “shopping while black”. O país que elegeu Obama tem casos notórios de discriminação a consumidores negros.

Ano passado, Trayor Christian, estudante de engenharia na época com 19 anos, foi à loja de luxo Barneys comprar um cinto de 349 dólares. Depois da compra, já na rua, foi abordado por agentes da polícia que o acusaram de usar um cartão de débito falso.

“Como você poderia pagar por um cinto desses? Onde você arranjou o dinheiro?”, perguntaram os policiais, que algemaram e detiveram o rapaz.

O ator Rob Brown, de “Encontrando Forest”, passou por situação parecida ao comprar um relógio e Oprah Winfrey foi constrangida pelo funcionário de uma loja em Zurique, que se recusou a mostrar uma bolsa de 38 mil dólares alegando que a apresentadora não teria dinheiro para pagar.

A situação não é diferente no Brasil. O programa “Legendários”, anos atrás, fez um teste em que um negro, uma mulher branca e atraente e um rapaz efeminado entravam em uma loja, olhavam mercadorias e saíam ao mesmo tempo sem comprar nada.

Os três atores levavam nas bolsas um dispositivo para fazer o alarme apitar na saída. Fizeram o teste três vezes. Em um deles a moça foi abordada, mas questionou e saiu sem qualquer resistência do segurança. Por outro lado, o negro foi abordado duas vezes, em uma delas com violência.

Talvez os vídeos de Rashid mostrem apenas a neurose dos comerciantes e não casos concretos de racismo. Uma boa ideia seria um rapaz branco fazer a mesma coisa para tirarmos nossas conclusões.

Rashid trouxe para o debate o problema da sombra que persegue negros em lojas e supermercados — e mundo afora.

 

 

Marcos Sacramento

Marcos Sacramento, capixaba de Vitória, é jornalista. Goleiro mediano no tempo da faculdade, só piorou desde então. Orgulha-se de não saber bater pandeiro nem palmas para programas de TV ruins.

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