“O massacre das crianças de Newtown foi uma farsa!”

Atualizado em 30 de janeiro de 2013 às 16:15

É o que estão afirmando as milhares de teorias conspiratórias sobre a tragédia em Connecticut

Demorou um pouco, mas finalmente aconteceu. O massacre de Newtown está sendo recontado por via de teorias conspiratórias. Em Cincinnati, um repórter de uma afiliada da Fox, Ben Swann, duvidou publicamente que houvesse apenas um atirador. Chegou a pedir às autoridades que liberassem as imagens das câmeras de segurança. Depois pediu desculpas. Na Flórida, o professor de comunicação Tracy James afirmou que o governo Obama contratou profissionais para chorar diante das câmeras com o intuito de mobilizar a opinião pública em favor do controle de armas.

Todos os fanáticos da Segunda Emenda, defensores do direito dos americanos se armarem, se uniram num só coração para explorar desavergonhadamente o ocorrido. O caso mais escabroso é um vídeo chamado “The Sandy Hook Shooting – Fully Exposed”, que tornou-se viral. Até este momento, a primeira parte tem mais de 11 milhões de views no YouTube. A segunda, 109 mil. E contando.

O vídeo está postado num canal chamado thinkoutsidethetv, que coleciona todo tipo de barbaridade. O principal colaborador da obra é ele, o primeiro e único, o maior paranoico do planeta, Alex Jones. A certa altura, aparece um dos apresentadores do site Infowars, de Jones, uma espécie de âncora com cara de maluco e rabo de cavalo, conduzindo a “investigação”.

A peça manipula as informações veiculadas na mídia nas primeiras horas do tiroteio – confusas e eventualmente equivocadas – para restabelecer a “verdade”. De acordo com esses teóricos, muitos dos pais e testemunhas são atores, já que não choraram diante dos repórteres (!?). A foto de Obama com uma família seria uma farsa. Uma das meninas seria Emilie Parker – que morreu no tiroteio. Como isso seria possível? (Era a irmã de Emilie, muito parecida com ela).

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Declaram que havia múltiplos atiradores, não só Adam Lanza. Usam as filmagens de um homem numa mata nas proximidades da escola (tratava-se de um pai que tentava visitar o filho, foi interrogado pela polícia e liberado em seguida).

Enfim, é uma loucura. Mas, na medida em que mais e mais pessoas embarcam nisso, a coisa ganha corpo. Pelo menos um morador de Newtown recebeu telefonemas anônimos em que era acusado de participar do “acobertamento” do governo.

Os teóricos da conspiração fazem um apelo: “Isso não é feito para ofender ninguém, mas apenas levantar questões que precisam ser respondidas. Não estamos apontando o dedo porque há muita confusão, mas parece que algo está acontecendo!”

O que está acontecendo é um teatro do absurdo, recheado de detalhes repugnantes e desrespeitosos. O pai de uma das vítimas, que se identificou como “Pete” num programa de rádio, se manifestou. “Falar das teorias conspiratórias me faz ter vontade de vomitar”, disse. “É uma maneira inimaginável de encarar uma tragédia”.

Em circunstâncias normais, tudo isso estaria se encaminhando naturalmente para o esgoto. Mas quem está falando em circunstâncias normais?

Leia mais: O massacre das crianças de Connecticut e o controle de armas.

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