O que ainda limita o bolsonarismo nas polícias militares. Por Moisés Mendes

Atualizado em 23 de agosto de 2021 às 23:16
Coronel da reserva Glauco Carvalho – Foto: Reprodução

O que ainda limita o bolsonarismo nas polícias militares.

Por Moisés Mendes

João Doria Júnior está alertando outros governadores para o que pode acontecer em seus Estados: a repetição das falas golpistas do coronel Aleksander Toaldo Lacerda, comandante do Comando de Policiamento do Interior-7, da região de Sorocaba.

Lacerda está afastado do cargo enquanto é investigado, depois de usar as redes sociais para convocar colegas para o ato pró-Bolsonaro no dia 7 de setembro, criticar o próprio Doria, que chamou de “cepa indiana”, e dirigir ataques a ministros do Supremo e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

Lacerda é apenas um ou fala por muitos? O sujeito é na verdade uma das cabeças de um movimento em expansão. O bolsonarismo está crescendo dentro da PM paulista, segundo o coronel da reserva Glauco Carvalho (foto).

No ano passado, o coronel foi notícia nacional ao renunciar à vice-presidência da Associação de Oficiais da PM paulista e divulgar uma nota criticando a invasão da entidade pelo bolsonarismo.

Carvalho considera Bolsonaro uma vergonha para os militares. Conversei com ele na tarde desta segunda-feira. O resumo está logo abaixo.

Aos mais assustados, o coronel – que conhece as entranhas das PMs – diz que é quase improvável que Bolsonaro consiga articular um levante nacional de apoio das PMs a um golpe.

Esses são os principais pontos da conversa, que foi muito mais isso mesmo, uma conversa, do que uma entrevista:

O que aconteceu em São Paulo (o caso do coronel Aleksander Toaldo Lacerda) é mais uma demonstração da falência das instituições. O que há hoje é uma combinação de motivações. O antiesquerdismo e o apoio a Bolsonaro andam juntos com o desgaste do PSDB.

No caso específico de São Paulo, há ainda a questão salarial. Os salários da PM paulista são os mais baixos das polícias militares em todo o Brasil.

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Apoio a Bolsonaro

Bolsonaro conta com facções de apoiadores dentro do Exército, nas PMs e nas guardas municipais. Mas não acredito que ele possa contar com grupos que tenham uma coordenação nacional, porque essa coordenação não existe. Não temos polícias nacionais (fardadas e ostensivas, como na Bolívia, no Chile e na Argentina). A nossa sorte (no sentido de que isso inviabiliza uma ação das polícias articulada em todo país) é que não temos essa coordenação nacional.

O apoio a Bolsonaro nas PMs é uma realidade. Vai aparecer bastante gente da reserva da PM de São Paulo na manifestação do dia 7 (os militares da ativa não podem participar). A extrema direita vem crescendo dentro da corporação, enquanto mostra enfraquecimento na sociedade civil.

Bolsonaro tenta transformar esse apoio dentro das PMs em algo orgânico, com base ideológica. Do meu grupo de amigos, 25% dos oficiais são bolsonaristas. O apoio é maior entre os praças, dos soldados até os sargentos. Mas não acredito que vá chegar a esse ponto da ruptura política com a participação das polícias.

A hierarquia e a disciplina hoje são o único e último anteparo dentro do Exército e das PMs. Eles (os bolsonaristas) têm medo de serem enquadrados no Código Penal Militar e no regulamento disciplinar.

O coronel (Aleksander Toaldo Lacerda) perdeu o comando (liderava sete batalhões da região de Sorocaba). Vamos ver o que vai acontecer agora em termos disciplinares. Isso é decisivo. Não fizeram nada contra o general Pazuello (por participar de um ato político ao lado de Bolsonaro) e muitos militares acharam que estava tudo liberado.

O que vivemos hoje é um divisor de águas. O Brasil não sairá do governo Bolsonaro da mesma forma que entrou. Não pode sair. É impossível continuar com tanta insegurança, em todas as frentes, incluindo Ministério Público e Justiça.

(O texto foi originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES)