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O Sensacionalista se uniu em matrimônio com a Veja — e isto não é piada. Por Paulo Nogueira

“Começou a fase Veja …”

Foi assim que o jornalista Pedro A. Sanches reagiu no Twitter depois de ver um post do Sensacionalista.

Era este: “Revelação de Odebrecht de que Dilma e Temer agiam juntos faz coxinhas e mortadelas virarem pasteis.”

Sanches resumiu o que está passando pela cabeça de muita gente depois que foi anunciada uma parceria entre o Sensacionalista e a revista Veja. O Sensacionalista terá uma coluna na Veja.

Trata-se de um casamento definitivamente estranho. O público da Veja é extremamente reacionário. O símbolo da revista é o blogueiro Reinaldo Azevedo, o orgulhoso pai da palavra petralha, ícone da direita xucra.

E o Sensacionalista, principalmente nos últimos tempos, se notabilizou pelo humor ácido e vigoroso com que tratou o golpe e os golpistas. A esquerda acabou adotando o Sensacionalista: nas redes sociais, seus posts são — ou eram — copiosamente compartilhados.

É um dos casamentos mais estranhos do universo da mídia brasileira. Não apenas os seguidores do Sensacionalista ficaram incomodados a ponto de avisar que já deram unfollow. Também os leitores da Veja não ficaram nada felizes.

Na postagem do Facebook em que a revista anunciou a novidade, muitas pessoas criticaram a parceria com um site da “esquerdalha”, dos “esquerdopatas” e assim vai.

O que está por trás de tudo? Do lado da Veja, o desejo de arejar, modernizar sua linha editorial. Aparentemente, a intenção é trocar a panfletagem direitista anti-PT por um jornalismo mais sério e minimamente plural.

Do lado do Sensacionalista, a motivação parece ser financeira: é uma chance de viabilizá-lo como negócio.

Se este estranho casamento vai funcionar é um enorme ponto de interrogação. A Veja criou na direita xucra seu público mais fiel.

É uma audiência que quer ver semanalmente denúncias espetaculares contra Lula e o PT — ainda que infundadas. Piadas do Sensacionalista são uma das últimas coisas que os leitores da Veja querem ver pela frente.

A não ser que — bem, a não ser que o Sensacionalista mude, como sugeriu no Twitter o jornalista Pedro Sanches.

Mas, neste caso, as chances de o Sensacionalista perder a graça e o propósito são enormes.

Parece, enfim, aquele tipo de relação perde-perde: nem os leitores da Veja e nem os do Sensacionalista gostaram da notícia.

Será uma surpresa se este esquisito matrimônio funcionar. Tem tudo para ser — perdão pelo clichê — uma piada.

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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