O simbolismo do beijo de Lula e Janja no Palco do Futuro. Por Nathalí

Atualizado em 22 de fevereiro de 2023 às 1:12
Lula beija Janja durante shows da festa da posse. Ricardo Stuckert

 

Uma coisa que aprendi escrevendo sobre política: no jogo político, tudo tem um significado. Talvez por isso o beijo de Lula em Janja foi parar nos assuntos mais comentados do Twitter, dando origem à primeira leva de memes de 2023.

Outra coisa que aprendi é que, tendo um significado mais óbvio, há certamente também um outro mais profundo, só alcançado depois de alguma reflexão.

O discurso de posse de Lula foi permeado, é claro, por esses significados: da entrega da faixa presidencial pelo povo à presença de mulheres, indígenas e quilombolas no palanque, passando pelo beijo de milhões:

“Em agradecimento a vocês, mulheres, vou dar um beijo na Janja”, disse o presidente do Brasil.

 

“Obrigada, meu Deus, por eu estar aqui. Minhas companheiras mulheres, se preparem, uma das conquistas é que a mulher ganhe o mesmo salário do homem. Que ela faça política e pode estar onde ela quiser”, declarou, e nós, é claro, temos prints pra cobrar.

Como disse o próprio Lula, um governo não precisa de tapinha nas costas: precisa de uma sociedade que lhe cobre. É assim que nós, que temos o privilégio de não sermos gado de ninguém, vivemos a nossa democracia participativa.

Eu queria muito poder nunca mais falar em Bolsonaro – mas seu desgoverno, mesmo diante de tanta esperança, ainda ecoa no presente – mas é válido comparar a participação feminina na posse do ex-presidente e na posse de Lula.

A relação do governo Bolsonaro com as mulheres – intermediada por Micheque Bolsonaro – sempre foi um teatro. Os encontros de mulheres evangélicas emitiam discursos como “a mulher é submissa ao homem” (essa pérola foi de Heloísa Bolsonaro, esposa do 01), ou “a mulher é uma ajudadora do marido.”

As mulheres eram, nesse caso, usadas como iscas para venderem um discurso altamente machista – o que, é claro, jamais funcionou.

No novo ano – o ano em que recuperaremos a nossa dignidade enquanto nação – e no novo governo, as mulheres já têm vez e voz: foi Janja quem proibiu os fogos de artifício na Alvorada, para não assustarem aos autistas e aos animais.

As escolhas de Lula para os Ministérios – 11 deles comandados por mulheres – também dizem muito, assim como a reformulação do programa de Combate à violência contra a mulher e a indicação de mulheres como presidentes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.

A participação feminina no Governo Lula, está mais do que óbvio, não é só discurso, e Janja representa isso como ninguém:

“Eu não vou ser a mulher que vai ficar em casa”, declarou ela, uma socióloga da classe operária. Talvez ineditamente, temos como primeira-dama uma mulher que não advém da elite, mas da luta dos movimentos sociais. Uma mulher que não vai servir de isca, mas de ponte.

Nada mais simbólico do que isso: um beijo de língua em uma primeira-dama operária.  Janja é gente nossa – e é precisamente aí que reside o ineditismo de sua presença potente no novo governo.

Ao beijar a esposa no Palco do Futuro, Lula busca transmitir essa verdade, além de alguma virilidade, que não faz mal a ninguém (aquela virilidade que os bolsonaristas transformam em obsessão por armas e coturnos).

O presidente dá início, sobretudo dá início ao governo da juventude, das minorias e do amor.

E, como dizem por aí: sem tesão, não há revolução.

Que comece a famigerada democracia transante.

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