Orçamento secreto financia compra de colaboracionistas no Congresso. Por Jeferson Miola

Atualizado em 8 de julho de 2022 às 19:24
Análise feita por Jeferson Miola

O orçamento secreto é uma fonte bilionária de financiamento do governo militar para a compra de colaboracionistas do fascismo no Congresso. É um processo de compra parlamentar no varejo e no atacado.

Este mecanismo, que foi operado diretamente pelo general Luiz Eduardo Ramos [Secretário de Governo] na eleição para as presidências da Câmara e do Senado, drena dezenas de bilhões de reais do orçamento público federal pelo ralo da corrupção.

O governo montou a maior operação de corrupção orçamentária jamais vista na história para comprar a eleição dos colaboracionistas Arthur Lira e Rodrigo Pacheco às presidências da Câmara e do Senado, em fevereiro de 2021.

O simplório senador Marcos do Val, do Podemos – partido de extrema-direita integrado também por Álvaro Dias, Deltan Dallagnol, Rosângela e Sérgio Moro – apresentou a prova irrefutável sobre o funcionamento deste mecanismo inconstitucional e corrupto de cooptação de apoio parlamentar.

O senador, que recebeu 50 milhões de reais, revelou ao jornal Estadão que “o Rodrigo Pacheco virou e falou para mim assim: ‘Olha, Marcos, nós vamos fazer o seguinte: os líderes vão receber tanto, os líderes de bancada tanto, essa foi a nossa divisão’”.

O correligionário de Moro e Dallagnol justifica que Pacheco “me passou isso porque eu fui um dos que ajudei ele a ser eleito presidente do Senado”.

Marcos do Val relata em detalhes o diálogo surreal com o presidente do Senado: “E aí eu falei: ‘Pô, legal, está transparente e tal’. Aí, ele falou: ‘Olha, se a gente conseguir mais uma gordura, eu direciono para você’”.

A partir desse momento, Marcos do Val passou a ser um soldado em missão do governo militar e do Rodrigo Pacheco dentro do seu Partido: “Então, muita gente que era contrária a ele [no Podemos], que era contrário, hoje a maioria fala: ‘Pô, você me surpreendeu’. E eu dizia para o Podemos: ‘Viu? eu falei para vocês’”.

O montante exato de bilhões de reais – ou, pelo menos, estimado – do orçamento secreto é desconhecido, pois a dinheirama desviada transita por caminhos cavilosos e obscuros, sem transparência, e totalmente por fora dos órgãos de controle.

A corrupção com este mecanismo alcança níveis astronômicos. Um caso notório é o da “emenda misteriosa” assinada por um usuário identificado apenas como “assinante”, que destinou R$ 29 milhões para prefeituras.

A eficácia do orçamento secreto para o governo fascista-militar é inquestionável. Além de conseguirem aprovar todos projetos de destruição e devastação do país, Bolsonaro e os generais contam com a certeza de que o governo tem no Congresso uma fortaleza inexpugnável.

A cada escândalo envolvendo o governo, a torneira do orçamento secreto comandada pelos generais jorra milhões e mais milhões de reais nos currais de deputados e senadores.

Enquanto Arthur Lira engavetou mais de 130 pedidos de impeachment de Bolsonaro por uma coleção de crimes de responsabilidade e comuns que passam em revista o Código Penal, Rodrigo Pacheco abortou a CPI para investigar o esquema de corrupção do Bolsonaro e charlatães no MEC.

Engana-se redondamente quem imagina que diante de evidências tão gritantes de corrupção e de tamanha fraude dos processos legislativos e orçamentários a Procuradoria Geral da República poderá agir. Negativo: ali outro colaboracionista do fascismo se refestela confortavelmente.

Publicado originalmente no blog do Jeferson Miola