Os 8 de Garopaba: como foi o protesto numa praia top de Santa Catarina

Atualizado em 15 de abril de 2015 às 9:35
Foto para provar que eram oito, e não cinco
Foto para provar que eram oito, e não cinco

Por Renan Antunes, de Garopaba:

Três empresários sócios da ACIG (Associação Comercial de Garopaba), Hilton Darde, Cley Reckziegel e Huribi Alexandrino, lideraram o movimento Fora Dilma nesta praia top de Santa Catarina, no ato de 12 de abril.

Eles trabalharam uma semana na organização do evento para levar oito pessoas, dois deles inclusos, à praia no domingo ao meio-dia.

O número de participantes parecia inflado.

Não batia com os cinco manifestantes contados pelo cabo Gurupi e pela soldada Francine, do postinho da PM local: eles repassaram sua contagem nada estratosférica ao QG, seguindo ordens de reportar tudo sobre o protesto.

O setor de comunicação da Polícia Militar espalhou a notícia pela internet.

Para corrigir os números para mais, Hilton, líder entre os líderes, exibe a foto que ilustra esta reportagem com os oito: “Aqui na esquerda sou eu. Do meu lado é o Moacir, meu faz-tudo. As duas mulheres estavam de passagem na praia. O grupinho de três atrás da bandeira é composto por minha filha e o namorado, com uma mulher desconhecida. O último é o Cley”.

Dá oito mesmo. O cenário é praia, mar ao fundo, temporada baixa.

Cadê o Huribi ? “Ah, ele é muito ocupado, nem sempre aparece, acho que tinha ido surfar”, explica o amigo.

Quem pagou a faixa do “Acorda Brasil” ? “Os dizeres vieram da nossa associação nacional, mas acho que foi a Natália (secretária da ACIG) que mandou fazer, deve ter sido baratinha”.

Garopaba
Garopaba

Qual o perfil destes cinco insatisfeitos de Garopaba ?

Fomos lá no day after para conversar com eles, botando gente de carne e osso no lugar de estatísticas. A filha e o genro não estavam. Moacir saiu para arrumar umas estantes.

Deu pra achar só os três líderes. Eles tinham muito para contar.

Hilton é gaúcho, 44 anos, há 10 em Garopaba. Trabalhou dois anos no Sebrae, foi secretário municipal em governo do PTB e do PMDB em Tramandai, no RS. Se gabou de não votar.

Ele criou e vende um software de gestão para empresas de contabilidade. Tem 60 clientes, fatura 12 mil mensais e está crescendo: “Não posso me queixar dos negócios”. Seu carro é um Air Cross 12/13, comprado zero.

Ele vive com as filhas de 19 e 21, estudantes de direito e arquitetura. Todos os dias um bus da prefeitura as recolhe na porta de casa, leva e traz da escola. Uma tem bolsa de estudos e a outra está no Prouni.

Hilton (que é separado da mãe das meninas) e as filhas são muito unidos. “Vamos juntos à praia e às baladas, falamos de tudo. Nossa vida aqui é ótima, não tem o stress das grandes cidades. Minha filha menor foi quem primeiro pediu para morar comigo, hoje nenhuma quer sair de Garopaba”.

Ele descreve a cidade como “muito rica, os únicos pobres aqui são os índios” – alguns guaranis de um toldo vizinho perambulam pelas ruas.

Hilton diz que é rica porque “a cidade tem um grande número de gaúchos aposentados. Aqui não existe pobre, pelo menos eu não vejo. Os manés sempre têm um terreninho, muitas vezes grilado, onde erguem sobradinhos que alugam no verão para garantir alguma coisa”.

Ele dá um exemplo da falta de pobres em Garopaba: “Outro dia eu quis dar umas roupas boas para ao lixeiro, ele disse que não queria. Nem os índios quiseram, parece que eles não gostam de roupas usadas. Viu ? Ninguém passa necessidades”.

Huribi é mané, 32. Contador, ex-secretário municipal de Garopaba em gestão peemedebista. Ele se diz um revoltado com a corrupção e “um idealista”. Disse que sua luta “é pelos demais, porque eu estou muito bem”.

O negócio dele tem uma das maiores clientelas da cidade. Fatura “alguma coisa entre 60 e 80 mil mensais”. Ele trabalha em casa, dividindo a rotina com surf e caminhadas com a esposa.

Cley, 40, nascido no Oeste Catarinense, é comerciante de tapetes, persianas e lustres. Entrou no protesto porque notou “desde janeiro” que “as coisas iriam desandar”. É Aécio desde criancinha: “Voto no PSDB porque quero mudar”.

Ele dá os números de sua desavença com Dilma: “Ela criou um ambiente ruim para os investidores. Ninguém faz mais nada pensando que amanhã as coisas vão piorar. Em março de 2014 eu faturei 50 mil, no mês passado apenas 20. Dá pra viver assim ? Eu ia trocar meu carro (um Ágile 2012), tenho o dinheiro, mas fico inseguro, prefiro guardar”.

Como os três se organizaram para o protesto: Hilton ligou para Huribi perguntando se a ACIG não faria alguma coisa (eles já tinham reunido 30 pessoas em 15 de março). Huribi disse “organiza aí”, conta Hilton, que ligou para Cley, botando em ação o recrutamento dos outros cinco.

Hilton é o mentor do grupo.

É dele a teoria dos “arquétipos sombras de Lula e Dilma”.

Preparado para ler ? Aqui vai: “Lula e Dilma receberam heranças genéticas negativas” – isto é, um arquétipo sombra.

“Lula porque nasceu pobre no agreste pernambucano. Foi muita dureza, muita negatividade. Uma vez tendo chegado ao poder, agarra-se a ele porque sabe o que lhe aconteceria quando o largasse” (Hilton não sugere o que aconteceria ao ex-presidente).

“Dilma tem a herança genética de seu pai, um filósofo criado sob a ditadura soviética na Escandinávia, ou na Bélgica” (Hilton não soube precisar onde).

Então, ainda segundo Hilton, “Dilma queria a liberdade que foi negada a seu pai. Ela cresce e a ditadura também lhe nega isto. Aí ela ficou forçando, forçando, forçando…”

Hilton afirma que “ela passou pelos anos 70 impregnada pela teoria hippie, onde trocou liberdade por libertinagem – sabe aquela coisa de querer destruir com as famílias” ?

Neste ponto hippie do relato o repórter pergunta se estávamos mesmo falando do arquétipo sombra de Dilma.

Hilton garante que sim com um argumento fora da casinha: “Quando a mãe diz ‘filho, coma tudo senão você não vai ganhar sobremesa’, isto é chantagem”.

Tudo foi dito por Hilton de manhã, perto das 11 desta segunda-feira 13.

Mais tarde, lá pelas 15h, depois de escrever este texto, o repórter ligou para Hilton. O texto foi lido, pra ter certeza que ele estava falando sério.

Hilton disse que ele não tinha medo dos arquétipos. Trocou a resposta por uma história: contou da babá brasileira processada nos Estados Unidos pelos pais da criança que ela cuidava, por ter cantado boi da cara preta como música de ninar.

Tudo entendido ?

Hilton Darde já está convocando para o próximo Fora Dilma, via facebook.