Os problemas do livro ‘Lava Jato – O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil’ começam logo no prefácio de Gabeira. Por Paulo Nogueira

Vladimir com Moro e a mãe Míriam no lançamento do livro

Os problemas do livro “Lava Jato – O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil”, do jornalista Vladimir Netto, começam logo no prefácio. Gabeira, em mais um espasmo de ódio antipetista, relembra o dia em que Lula foi coagido a depor.

Para Gabeira, foi uma demonstração de que todos são iguais perante a lei. Gabeira simplesmente ignora que Lula não fora intimado antes de ser coagido, o que transformou a operação em mais uma das múltiplas brutalidades jurídicas de Moro e sua Lava Jato.

Os problemas seguem muito além de Gabeira, naturalmente.

Faltou, essencialmente, um editor para Netto. Um editor teria dado a seguinte ordem para o autor: deixe o texto claro. Organize as ideias, os fatos, os personagens. Faça tudo ficar claro.

Porque o que se vê é uma selva de nomes ao fim da qual o leitor sai com mais dúvidas do que entrou.

O editor teria recomendado também humanizar o texto. É um clássico mecanismo que a imprensa americana de negócios encontrou para tornar legíveis textos cheios de números.

Vladimir não aproveita a oportunidade que teve em humanizar o relato com personagens como o próprio Moro, naturalmente, e o Japonês da Federal, que se tornou amigo do autor e apareceu no lançamento do livro em Curitiba, sorriso na boca e tornozeleira no pé.

O perfil de Moro é miserável. E o pouco que se tem é comprometido pela glorificação dele. Moro é tão formidável que trocava as fraldas dos filhos. Esforçado, tenta agora aprender línguas na raça, na internet. (Também eu tentei aprender mandarim na internet. Falo hoje fluentemente ni hao (fala-se nirráu).)

O editor que faltou teria pedido outras coisas a Vladimir. Por exemplo, ele toca no caso Banestado — em que Moro teve um papel muito criticado — sem explicar do que se trata. O leitor que se vire.

O livro de Vladimir Netto — filho de Míriam Leitão e repórter da TV Globo — revela, indiretamente, a pobreza da cultura editorial da Globo. Todas as coisas que citei acima teriam sido observadas numa cultura jornalística melhor.

Fora isso, o livro trai também a parceria Moro-Globo na desestabilização de Dilma. Foram parceiros na empreitada. Ou cúmplices no crime, se você preferir.

José Padilha comprou os direitos para produzir uma minissérie. A não ser que um roteirista faça um milagre, o projeto será um fracasso antes mesmo de iniciado.

Ao lê-lo, lembrei de uma história americana. Um livro de leitura quase impossível estava sendo comprado em enormes quantidades. Uma revista combinou com uma livraria o seguinte: lá pela metade do livro, um vale seria afixado na página. De posse dele, o leitor seria ressarcido de parte do que dinheiro que gastara.

Ninguém reivindicou o dinheiro. Porque ninguém conseguiu chegar ao meio. Era um livro para ter e não para ler. Não consigo ver a mulher de Moro enfrentando capítulo após capítulo.

Moro não tem defeitos no livro. É difícil acreditar que ele sequer vá ao banheiro como cada um de nós.

O objetivo foi divinizar Moro e a Lava Jato. Mas isso não foi atingido, dados os variados problemas do texto.

Ficou um espaço aberto para um novo bajulador.

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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