Os recuos perigosos de Orlando Silva no PL das Fake News. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 28 de abril de 2023 às 18:39
Orlando Silva defende Tico Santa Cruz
Orlando Silva (PCdoB-SP) é relator do PL das Fake News. (Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)

Orlando Silva assumiu dois recuos importantes na PL 2630. Retirou a previsão da formação de uma entidade autônoma de supervisão das plataformas, por julgar que dificulta a aprovação. A oposição falava que estava sendo criado um “ministério da Verdade” orwelliano.

De fato, é necessário cuidado com um órgão desse tipo – imaginem como ele seria nas mãos de um Bolsonaro. Seria importante fixar em lei, com clareza, sua composição e atribuições.

Mas a aprovação do PL sem a previsão de uma estrutura de controle das plataformas gera o risco de que a lei se torne inócua.

O outro recuo foi a garantia do “livre exercício da expressão e dos cultos religiosos, seja de forma presencial ou remota, e a exposição plena dos seus dogmas e livros sagrados”. Em suma, a liberdade religiosa ganha primazia sobre a sanidade do debate público e a preservação de direitos fundamentais.

O problema é que a “liberdade religiosa” serve para acobertar muitos abusos – e o texto é vago demais para impedi-los.

A “liberdade religiosa” protege o pastor que se fantasiou de pai-de-santo para acusar orixás pela violência nas escolas? Protege as mentiras de Silas Malafaia sobre o processo eleitoral? Protege os ataques de pastores e padres contra a dignidade de mulheres e da população LGBT? Protege os esquemas de charlatanismo que, em tantas igrejas, drenam os recursos de fiéis desavisados? Protege lavagem de dinheiro?

A liberdade de expressão religiosa não pode servir de salvo-conduto para racismo, misoginia, homofobia. Nem para incitação à violência. Nem para abusos sobre os fiéis.

Quando fé e má fé se encontram, temos um problemão. A chantagem que os líderes das igrejas fazem sobre os políticos torna difícil enfrentá-lo. Mas, se não o enfrentarmos, nossa democracia nunca vai decolar.

Publicado originalmente no Facebook do autor

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clique neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link

Luís Felipe Miguel
Professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Demodê - Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades.