Para aliviar Bolsonaro, aliados empurram planejamento do golpe a Braga Netto

Atualizado em 22 de fevereiro de 2024 às 12:25
Jair Bolsonaro (PL) e Braga Netto. Foto: reprodução

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) adotará uma postura de silêncio durante o depoimento marcado para esta quinta-feira (22) na Polícia Federal. Nos bastidores, há uma estratégia que promete causar alvoroço entre aliados, apontando o general Braga Netto, que também foi intimado a depor na PF, como mentor de possíveis tumultos eleitorais ou pós-eleição.

Auxiliares do ex-presidente atribuem ao general da reserva, ex-candidato a vice na chapa de Bolsonaro que perdeu as eleições, a influência sobre as discussões de medidas para “virar a mesa”. Essa narrativa ganhou força após a divulgação de vídeo completo da reunião ministerial, realizada em junho de 2022, no qual Bolsonaro debate ideias golpistas com aliados de seu governo.

Segundo a jornalista Andréia Sadi, da GloboNews, pessoas próximas minimizam o papel de Bolsonaro na reunião, alegando ser uma forma de “levantar a moral da tropa”. Desde o início das investigações, ele demonstra preocupação com possíveis prisões suas ou de seus filhos, tentando desvincular-se de responsabilidades e classificando as ações de assessores como “excesso de iniciativa”.

Além de poder servir como bode expiatório do bolsonarismo, Braga Netto gerou seus próprios motivos para ficar no radar da Operação Tempus Veritatis. Uma das vertentes cruciais para isso, segundo a PF, é uma conversa do general, conforme informações do jornal Folha de S. Paulo, em que ele sinaliza a possibilidade de permanecer no poder mesmo a quatro dias do fim do mandato de Bolsonaro. A atuação do militar junto a milícias digitais também é considerada relevante pelos investigadores.

Conforme relatório da PF, em 27 de dezembro de 2022, Braga Netto recebeu uma mensagem de Sérgio Rocha Cordeiro, assessor de Bolsonaro, questionando onde poderia deixar o currículo de uma mulher. A resposta do general foi: “Cordeiro, se continuarmos, poderia enviar para a Sec. Geral. Fora isso vai ser foda”. A mensagem foi encontrada no celular de Cordeiro.

Os investigadores interpretam que esse diálogo indica a persistência de esperança por parte de Braga Netto de que o grupo de Bolsonaro permanecesse no poder. Além disso, a PF destaca que o próprio Braga Netto utilizava o “gabinete do ódio” e orientava as milícias digitais com o objetivo de incitar outros militares a aderirem ao golpe e, ao mesmo tempo, atacar a imagem de militares que resistiam ao intento golpista, conforme apontado no relatório.

O ex-ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cid, que fechou delação premiada, é visto como peça-chave nesse contexto, sendo chamado de “porteiro” por sua suposta função de apenas cuidar da segurança em reuniões importantes. No entanto, as investigações sugerem que Cid desempenhava um papel mais amplo, atuando como uma ponte entre Bolsonaro e os militares.

Com sua delação, Cid perdeu a proteção de Bolsonaro, que agora monitora o desenrolar das investigações sobre outros aliados, como Marcelo Câmara, que também prestará depoimento nesta quinta-feira. Câmara, que assumiu a assessoria pessoal de Bolsonaro no fim do governo, é considerado leal, mas há receio entre os bolsonaristas de possíveis novas delações, seguindo o caminho de Cid.

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