Para Sempre

Atualizado em 21 de julho de 2011 às 12:11
Mamãe, com papai e a caçula Kika, nos bons tempos

Minutos antes de ser fechado o caixão que guardava mamãe, uma amiga de minha irmã Mari fez, para surpresa minha e de quase todos ali, uma leitura que quero compartilhar aqui.

Mamãe amava poesia, e declamava com graça, clareza, ritmo. Bandeira e Fernando Pessoa eram seus favoritos.

A amiga de Mari, sabendo do amor de mamãe pelos poetas, leu um poema de Drummond que não poderia ser mais apropriado às circunstâncias. Os versos se ajustaram perfeitamente a uma coroa de flores em que se lia uma frase sintética feita por meu irmão Kiko para mamãe: “A mais delicada das flores”.

Para Sempre

Carlos Drummond de Andrade, em Lição de Coisas, p.349 da Obra Completa.Ed.Aguilar

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
__mistério profundo__
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baix ava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.